BURACO DE PAREDE I

Espia só como ele é vistoso.

Vá para janela, menina.

Vou, minha mãe?

Vá enquanto seu pai não chega.

Vai dar cabimento para ele.

O que é que eu faço, minha mãe?

Dê um sorriso bem bonito para o moço, minina.

O moço está olhando para tu.

Ele gostou de tu, Terezinha.

Foi, minha mãe?

Foi sim.

Ele quase torceu o pescoço para ficar olhando para tu.

Mas o danado do jumento desebechou.

Quando ele passar aqui, de novo, tu corre para janela, Terezinha.

Meu pai, vou pegar água com Zefa.

Cuidado, minina.

Porque tu olha para mim todo dia quando eu passo na tua casa, Terezinha?

Eu queria namorar com tu.

Eu quero.

Para isso, tu tem que pedi ao meu pai.

Teu pai?

Sim.

Vixe, ele parece bicho bruto.

Mas fazer o quê?

Qualquer dia desses quando der coragem eu vou lá na tua casa, pedir tu em namoro.

Tu vai mesmo?

Claro que vou, Terezinha.

Diga nada pra pai não, Zefinha, Ouviu? Senão eu não trago tu para pegar água.

(É meio dia no Sertão. O sol dá bem no meio do miolo da cabeça. Todos repousam.)

Oh de casa...oh de casa!

Oh de fora!

Aff ainda bem que responderam.

É Josivaldo, o filho de Antonhe Grande.

O que quer?

(Se eu pedir um copo da água, vou parecer um cabra frouxo, se for direto ao assunto o cabra pode me engolir).

Que calor é esse?

Oh ano ruim de chuva.

Entra, meu filho.

E o senhor plantou muito esse ano?

Plantei um saco de feijão, mais dez kilo para tirar a semente, um tambó de milho, mais vinte quilo para tirar semente e cinquenta quilo de fava.

Trabalha bem, seu Florenço!

Nada, metade é para as lagartas e o restante é para nós comermos.

O ano passado tivemos que sair de dentro de casa para guardar a safra.

Teu pai plantou bem?

Plantou um pouco menos, mais plantamos um bocado bom, a família é menor.

Cada dia a chuva fica mais difícil, no nosso Sertão.

La em casa, nós plantamos um pé de feijão, as lagartas come tudo, parece que fica esperando para comer.

É esses anos de seca, só para as lagartas.

Coloca um café para o menino, Francinete.

Francinete?

Tou aqui.

Traga um café.

Oh cabra bom é esse.

Aqui as lagarta também faz o mesmo.

Seu José, eu queria falar um negócio para o Senhor, sem tirar o seu respeito.

Fale cabra.

Eu vim aqui pra mode, eu pedi a mão da tua menina maior em namoro.

Francinete e Terezinha venham aqui.

Tou aqui, pai.

Você deu cabimente para ele?

Não, meu pai.

E ele soltou cabimente para você, Terezinha?

Não.

Como você é um cabra respeitador, eu vou aceitar.

Agora é o seguinte, cabra, tá vendo esse buraco de parede?

É por aqui que vocês vão namorar, até vocês decidirem o que vão fazer.

Saiba que daqui, Terezinha só sai casada.

Está bem, Seu José, eu quero muito uma mulher para mim poder casar e ter a minha casinha e fazer o meu roçadinho.

(A noite no Sertão é silenciosa. Em noites sem lua o breu toma de conta do mundo. A lua é amiga do sertanejo.)

Janiel Martins
Enviado por Janiel Martins em 23/04/2023
Código do texto: T7771165
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