Dia Ausente.

Em férias o mundo parecia parado, resolveu dormir até mais tarde sem esperar muito da vida. Todos os compromissos descartados em volta ao talento momentâneo de querer sonhar.

Como em uma magia espontânea, voou ao encontro do velho amor que habita em uma chácara, não muito longe. Abriu a porteira, andou por entre os jardins, molhou os pés no pequeno riacho se demorando ali.

A paisagem não trouxe lágrimas, pois o peito repleto de sorriso ofertou o encanto delicado do som das folhas, dos cajueiros e do canto dos pássaros. Em poucos passos entrou na sala da grande casa branca, passou pela copa, cantarolando chegou ao quarto, murmurando paz. Em outro cômodo, olhou os muitos Cd’s, foliou alguns livros de Direito, percebeu que o computador estava ligado e uma petição concluída em breve seria impressa. Reviveu uma saudade ímpar de carinho, compreensão e vitória.

Há seis anos não visitava aquele lugar, ele ainda estava lá, mas só era possível o reconhecer e sentir a grandeza do amor canoro, em sentimentos alegres, próprios da penumbra azul contida na imensidão dos seus pensamentos.

O bolero de Ravel estava programando para despertá-la às 10:00 horas da manhã, porque é como uma rainha que gosta de começar a viver a realidade. Mas ao abrir os olhos, o dia já havia se recolhido.

Norma Barros
Enviado por Norma Barros em 14/12/2007
Reeditado em 06/08/2018
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