A esperança que se frustra, mas não perpetuamente.

Diz o Salmo 09 de Davi, o Rei dos Hebreus, no verso 18 que: “O necessitado não será para sempre esquecido e a esperança dos aflitos não se há de frustrar perpetuamente”.

Eu não sou teólogo, profeta, ou filho de profeta. Muito pelo contrário. Sou uma figura vulgar, medíocre. De pouca fé, de poucos valores. Cheia de vícios e defeitos.

Mas em uma leitura ainda que superficial do texto acima é possível perceber a realidade a respeito da idéia tanto do esquecimento, como de frustração da esperança de quem está em aflição por parte do Senhor da criação.

Os motivos e fundamentos para que o Senhor esqueça e frustre a esperança de alguém, naturalmente, não sei.

Frustração tem de ver, em alguma coisa, com a expectativa não alcançada, com esperança vencida.

Esquecimento sugere solidão, desamparo.

Lidar com frustração e esquecimento é doloroso, desanimador, diminuidor do desejo de viver, de existir.

Eu conheci um pai fiel. Fiel a sua esposa, seus filhos, sua família e amigos.

Não diria que era fiel a Deus porque penso que seria presunção demais da minha parte fazer tal confirmação. Aliás, esse negócio de fazer afirmações “em nome do Senhor” me parecem temerárias, perigosas.

Somos pequenos demais, vaidosos demais, rasteiros demais para querer afirmar alguma coisa em nome do Eterno.

Creio nesse mistério da fé. Sinceramente creio. Pouco sei explicá-lo. Ainda assim, creio. Tanto creio que, ao observar nossa pequenez, a minha de maneira especial, tenho a impressão que somos figuras absolutamente dependentes da sua graça e misericórdia.

Somos pouco, sabemos menos ainda.

Mas esse pai que conheci estava desesperado. Não tinha dinheiro para pagar as contas de sua própria família. Sofria com isso, estava abatido.

E não me venham julgamentos antecipados por aqui. De fato, ele administrou mal os seus recursos, mas quem nunca?

Não se trata de um pródigo não. Foi meramente omisso, desorganizado, sempre desejoso de agradar sua esposa e filhos, poucas vezes dizia não.

E tem mais, tinha um pacto com o seu Deus de devolução de uma dada porcentagem. Cumpria seu compromisso com fidelidade.

Mesmo assim, caiu nessa situação.

Já sentiu o gosto do choro engasgado? A falta de coragem em levantar da cama? De olhar nos olhos da sua mãe, do seu pai, da sua mulher ou seu marido?

Já sentiu o desânimo te alcançar, o desejo do nada, famoso sentimento também conhecido como angústia? Fraqueza total, de corpo e alma?

Era assim que esse pai se sentia. Como tantas outras pessoas por aí.

Como tantos outros pais, mães, jovens e adultos. Sem esperança, sem socorro, sem ter quem os dê amparo, doentes na alma, desacreditados de si mesmos.

Dias atrás, nesse país tropical, fui comprar um mamão e o seu preço foi R$32,00. Tão somente e nada mais que um mamão.

Sem ter a quem socorrê-lo, lembrou-se de buscar o seu Deus, mas não obteve resposta naquele exato momento, não conseguiu o socorro.

Os bancos não. Esses estavam de braços mais que abertos para recebê-lo. No entanto, a cobrança do débito se multiplicava em três vezes mais do que aquela que verdadeiramente devia.

Como isso pode ser aceito em nossos dias? Se confunde, inclusive, com uma sombra de coação, uma desproporcionalidade absurda! Que cobrem dentro de um parâmetro daquilo que é compreendido como justo, tenham piedade!

O pai disse não ao assédio bancário e se manteve forte diante das mais de 50 ligações de cobrança recebidas diariamente em razão do seu inadimplemento que, curiosamente, não completara nem mesmo 01 mês.

Esse pai, inconformado, sentindo-se violado, resolveu esperar. Resolveu continuar no seu trabalho, resolveu tentar criar em si a expectativa que, de alguma maneira, encontraria a saída para tal situação, que haveria para ele socorro.

Talvez e sem qualquer afirmação de absoluta certeza. Mas talvez esse exato comportamento também seja aquilo que denominamos fé, pois, como diz o Salmo 09 de Davi, o Rei dos Hebreus, no verso 18:

“O necessitado não será para sempre esquecido e a esperança dos aflitos não se há de frustrar perpetuamente”.

Nicollas Madeira
Enviado por Nicollas Madeira em 04/05/2023
Código do texto: T7780179
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