Copo d água

Ao visitar um amigo, Maria extrapolou a hora, entretida com as ideias e a chuva, que pela aquela noite, em Belém, como de costume, começou a cair. Não obstante as suas palavras, substanciando argumentos pertinentes ao assunto, veio-lhe um mal estar, uma dor de cabeça vulgar. Que ela de pronto externou, sem qualquer constrangimento, ao amigo.

Como estavam em frente ao apartamento, na área de entrada do prédio, como a se despedir, de boa intenção, o rapaz então ofereceu a moça, o aconchego do seu lar. Sem pressupor outra intenção,

Que não ajuda e até em função da dor, ela aceitou.

Subiram os dois conversando, cumprimentaram o porteiro, pela boa educação, que tinham e subiram.

Lá chegando, entraram e numa ação de desconforto, aliada a condição de estar a vontade, pelo conhecimento e a confiança disposta ao amigo, ela foi logo se deitando no sofá.

De boa ação, Mário, foi ao seu quarto e pegou um medicamento, sem ser receitado pelo médico, atitude comum no país, quando se tem sintomas, aparentemente simples. E com um copo d'água, serviu a Maria, que se quer perguntou o nome do medicamento, dado em função da agonia, que naquele instante ela sofria.

Em seguida ela, como havia pré estabelecido agradeceu a Mário e se direcionou a porta para ir embora , uma vez que o rapaz estava só em casa e sob o ímpeto cultural, até diria a consciência, dos conselhos maternos lá atrás, a fizeram pé ante pé segurar a maçaneta, girar a chave e abrir a porta pra sair. Ação está, que publicou, sob verbos os protestos de Mário dizendo:

- Calma, você acabou de tomar um remédio . Descansa mais um pouco, espera a chuva parar e eu te levo pra casa. O Telégrafo não é bem aqui e é um bairro, desprovido de segurança, mal iluminado e mal estruturado, além de que está chovendo.

Ela pensando confusa disse:

Já sei, me dá uma folha de papel pra eu fazer uma mariazinha, pra passar a chuva.

Segundo os ritos e contos populares, no norte, mais especificamente, em Belém, quando você necessitava sair e estava chovendo, as pessoas faziam uma boneca de papel, prometendo levá-la pra passear, caso ela parasse a chuva. E dentro desse contexto, Maria fez a sua aposta, que por coincidência ou não, a chuva deu uma trégua. E ela sorrindo, ainda desconfortável por causa da molestia, e um pouco tonta, sem saber o que de fato acontecia, agradeceu ao seu amigo, pela gentileza e insistiu na saida.

Sem oferecer outra resistência, o rapaz concordou e desceu com ela até onde estavam conversando.

Quase se despedindo, ela se sentiu maus tonta e confessou a ele, os seus sintomas.

De pronto, ele quis recobduzi-la de volta ao apartamento, o que ela não concordou dizendo:

- Não meu amigo...não fica bem tua mãe chegar e eu estar contigo ali.

Ele retrucou:

- que é isso, você é de casa e a mamãe gosta muito de você.

Ela por ter forte em si as convicções de entendimento familiar expressivos, mais uma vez agradeceu e pediu pra ele a levar a casa de uma amiga, onde ela iria se sentir, menos constrangida.

Assim sendo e compreendo as razões, a levou a casa de Kátia, que quando a viu foi ao encontro dos dois apreensiva e perguntando logo:

- Meu deus, o que ela tem?!...

A essa altura Maria já não falava nada com nada e apresentava sinais de embriaguez. Sua amiga tentava sem sucesso descobrir algo ou melhor socorrer, diante do silêncio de Mário, que apenas objetou:

- Como minha mãe é enfermeira acho melhor levá-la pra casa.

Nervosa Kátia, com a cabeça concordou, mas enfatizou, talvez refletindo:

- Vamos. Vou com vocês.

E ele a princípio disse:

- Não é preciso. Não vou te dar trabalho. Comigo ela estará bem.

Kátia inferiu:

- Mário não é por nada, mas ela é minha amiga e eu agora, mais do que nunca quero saber o fim dessa história. Me perdoe, mas estou angustiada, pois nunca vi ela assim.

Sem mais questionamentos o rapaz chamou um táxi e os três seguiram de volta ao apartamento dele.

Nessas alturas Maria ria, falava alto, imitava boi e gatos. Aparentemente adormecia e de repente falava alto e ria...ria. Sem coordenação motora o rapaz a colocou no colo e de novo adentraram ao prédio. Só que agora, em três. Que o porteiro, como observador de ofício e de costume, logo identificou:

- puxa vocês saíram não faz tempo e já voltaram?... Coitada da moça, tá de porre?...

Sem responder nada Mário foi passado pro elevador, enquanto Kátia, em sua boa educação, informou:

- Não moço, ela está tendo algo, que a gente não identificou.

Respondeu o porteiro:

-mas ela saiu bem daqui...ah, antes que eu esqueça. Mário a sua mãe já chegou.

E eles subiram. Chegando no apartamento, dona Araci ao abrir a porta tomou um susto, ao ver a amiga do seu filho naquele jeito estranho. E foi logo perguntando:

-o que aconteceu?...por que ela tá assim?... Vocês estavam bebendo?...

Mário a deitou outra vez no sofá enquanto Kátia, meio que respondia:

-eu só sei, que ela chegou em casa assim.

Mário apresentou sua versão:

- estávamos conversando e ela me pediu um copo de água. Subiu comigo, esperamos a chuva cessar e depois fui levá-la a casa de Kátia. Não sei ao certo de onde ela veio, depois se queixou de dor de cabeça e o resto vocês já estão vendo.

Dona Araci disse então:

- Vamos levá-la ao pronto socorro municipal.

Mas Mário se opôs dizendo:

-Não mãe, melhor levá-la a casa dela. Me dê a chave do carro, que a deixo lá.

Em rápidos lampejo de mãe ela disse:

Sim vamos levá-la então a casa dela, mas eu dirijo.

E no compasso, Kátia se Solidarizou. Dizendo:

- ela é minha amiga, eu também posso ir?...

Sob o silêncio taciturno de Mário, dona Araci falou:

- sim, minha filha, pode sim. E na volta a gente te deixa na tua casa.

Ao que chegaram na casa de Maria o pai, os recebeu sob estranho olhar, pois nunca havia visto sua filha daquele jeito. Pra ele, totalmente embriagada, falando alto e apalhaçadamente, rindo, grunindo, gemendo e imitando gatos e lagartos...Que disse, num jeito todo seu:

- mais o que aconteceu com ela. Ela bebeu?...

Entre olhares ninguém soube responder.

Aquela noite ficou como se Maria estivesse de porre. Embora tivesse tomado apenas um copo d'água, pra dona Araci e sua amiga Kátia .

Quando acordou no outro dia, tentou se explicar, como pai e com a família, porém o estereótipo marcou.

Com o passar dos dias, dona Araci conhecendo o filho e procurando Maria, quis saber:

-Mas Maria me conte porque estavas porre naquele dia?...

Disse a moça:

- eu porre?... já expliquei mil vezes ao meu pai e vou te dizer , que não bebo. O que aconteceu foi que eu estava com dor de cabeça e o seu filho, gentilmente me deu um copo de água com um comprimido. E só o que lembro.

De risos em risos, por linhas de um traçado dos imprevistos, mal sabiam elas, que aquele era um motivo pra fiar o laço de uma a amizade, que seria companheira a vida interior.

Dona Araci, naquela hora, em sua sã conclusão, por conhecer o filho disse a Maria :

- minha filha, te peço mil perdões, mas você foi drogada.

Maria chocada, esboçou ainda:

- por quem?

Dona Araci sentenciou:

- se conheço bem, pelo meu filho.