Vitória acordou especialmente feliz e a visão pela janela do sol brilhando fez com que ela pensasse que há dias que bronzeiam o corpo e iluminam a alma.  Olhou no relógio da sala e passava das oito. Estranho que Manu não tivesse chegado ainda.  Empregada de anos, era rápida e eficiente na limpeza e tinha um poder de empatia único. Quando Vitória desabafava com ela sobre algum problema, Manu se dava ao luxo de dar uma sentadinha rápida no braço do sofá, e ao mesmo tempo, esticava a mão para tirar um pózinho de algum lugar. Era dona dos abraços mais mornos e consolativos, que a fazia não somente esquecer da dor, mas na sua humildade e simplicidade, levava Vitória, mentalmente, para um lugar onde a solução sempre era possível.

 

Meia hora depois o telefone tocou e era o vizinho de Manu. Ela havia caído e estava num hospital, preocupada em avisar que não poderia trabalhar. Manu morava sozinha, pois,  o marido, há anos, havia arrumado outra mulher. 

Vitória rapidamente se vestiu e foi para o hospital. Entrou no quarto e lá estava ela, com a perna engessada. Manu não tinha com quem ficar e ela, prontamente, resolveu que a levaria para sua casa. Tomaria conta dela até que tirasse aquele gesso.  Passou a fazer o  serviço da casa, e cuidava de Manu com o maior carinho.

 

Tiveram conversas tão significativas. Percebeu, nesse tempo, o  quanto ela estava dentro da história de sua vida. E, numa inversão de papéis, teve a possibilidade de sentar no braço do sofá para ouvir seus lamentos. Foram três meses de convivência até que Manu voltou para sua casa, deixando um vazio em sua vida diária. 

Vitória percebeu que, de um modo figurativo, quando calçou os sapatos de Manu e andou um pouco no seu caminho, a humildade e empatia a ensinaram olhar para a sua própria vida sob outro prisma.  

 

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Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 18/07/2023
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