O ACHADO  =BXIW

 

É madrugada. A hora exata não sei . Só sei que  há muito me viro na cama sem sono; me levantei, fui até a biblioteca e de forma aleatória apanhei um livro e voltei pra cama e sem muito interesse comecei a folheá-lo, quando me deparei entre suas páginas com uma  folha de papel   envelhecida e amarelada pelo tempo , parecendo um rascunho de um bilhete que por certo não foi remetido, onde estava escrito:

Meu alguém;

 Estou só. E sem mais nem quê, de repente, algo explodiu dentro de mim em forma de carinho, de ternura que sinto por você. Não, não tome isto como divagação... Isto é só um bilhete, talvez um bilhete não tão alegre, mas um bilhete para quem eu quero bem, para quem eu não me envergonho de copiar dos almanaques frases feitas,   que dizem do pedaço de mar que existe em mim; de folhas brancas que poderiam ser as páginas de minha vida que não foram escritas; de girassóis pálidos   e de pássaros brancos, que talvez sejam o símbolo da paz que eu não consegui encontrar...

Meu alguém, confesso que já não tenho certeza  se houve alguma coisa entre nós e se houve ,quanto durou e se houve por que houve. Tem horas que penso que tudo não passou de imaginação minha. É tudo tão vago... Sabe meu alguém é hora de parar de sonhar, que fique comigo o tormento do não  ser amada por você, da ilusão de  me ver em teus olhos... Assim, só me cabe dizer... Adeus.

Fechei o livro, amassei  o bilhete, dei boa noite para as estrelas vistas através da vidraça da janela  do quarto, fiz carinho na cabeça do ursinho de pelúcia  e repeti Fernando Pessoa: Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem  ridículas...

                                                          

                                                             

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 01/08/2023
Reeditado em 01/08/2023
Código do texto: T7851079
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