Outros rumos

Era uma noite fria, ela estava sozinha em seu quarto e não conseguia dormir. Tivera um dia um pouco confuso, não por terem acontecido coisas ruins, mas por ter lutado o dia inteiro para afastar da própria mente certas conclusões que resolveram incomodar e que se faziam muito difíceis de digerir.

Não era bem uma novidade pra ela, perceber que vinha enganando a si mesma sobre os próprios sentimentos; na verdade podia se dizer especialista em mentir para si mesma (consciente ou inconscientemente, mas era quase um hábito, uma proteção que obviamente não funcionava).

Mas a noite era sua pior inimiga. Naquelas horas silenciosas, era sempre muito mais difícil fugir dos seus sentimentos confusos e desastrosos. Nunca aprendia, repetia eternamente os mesmos erros, como se vivesse num looping infinito.

E desse vez não estava sendo diferente. Sentada na cama, olhando as folhas das árvores balançarem com o vento, Julia só queria entender como se permitira cair mais uma vez nas mesmas armadilhas do caminho e colocar seu coração onde ele jamais poderia estar, num solo frio onde o pouso era simplesmente tentativa de suicídio emocional. Não caberia nunca naquele mundo que, embora parece totalmente aberto, estava absolutamente fechado pra ela..

E bastou apenas uma frase pra que ela percebesse a burrada que estava fazendo... Tonta, como pode não perceber o que estava sentindo por ele? Que grande tolice... Errada, muito errada, enganando a si mesma com um discurso que não correspondia ao que se percebeu sentindo.

Só naquela noite foi capaz de aceitar o maldito "monstrinho verde" incomodando muito mais do que deveria... Ledo engano o dela de achar que das outras vezes em que ouviu frases semelhantes, não era o famigerado monstrinho que a fazia mudar de humor quase que imediatamente e ficar brava, agressiva. Manteve a pose de indiferente e a reposta era sempre a mesma "Coisa da sua cabeça".

Mas já que finalmente conseguira enxergar o real problema, precisava digeri-lo e escolher um outro rumo. Sabia no fundo que chegara a hora de se distanciar.

Julia tinha o hábito infeliz de não cortar laços e quando percebia que não encontraria a reciprocidade que esperava, simplesmente não fazia nada, apenas dissolvia seus sentimentos em palavras que os mascaravam. Triste isso! Sentimentos mascarados não morrem, matam.

Enfim... Ela já sabia que não havia nada a fazer, a não ser começar a se distanciar... Era o melhor caminho, talvez o único. Sabia que ia doer um pouco, mas já estava acostumada a sangrar e sarar.

Era enfim a hora de mudar de rumo, aceitar que persistir ali era a garantia de procurar uma dor muito maior (Acabo de me lembrar de um filme da Julia Roberts... Seria a premonição do futuro se ela não entrasse logo numa das suas rotas de fuga)

Não havia mais possibilidade de mentir pra si mesma... A hora de mudar de rumo havia chegado. Então... Era seguir em frente e pra longe. Encarar que enganara a si mesma mais uma vez e se afastar.

Josiane Vieira
Enviado por Josiane Vieira em 10/08/2023
Código do texto: T7857759
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