O botão de liga e desliga
O Gregório se considerava especial entre os mortais.
“Sou lindo, inteligente e detesto interagir com a pobretalha”.
“Eles só servem para me servir e, de preferência, com a boca bem fechada”.
Assim pensando o Gregório criou uma aura em torno de si e, descontente com um cara esmoleiro, que rondava a porta do condomínio de luxo em que ele morava, e, já quase ao ponto de surrar o imbecil, o Gregório inventou um botão de liga e desliga, que era acionado com um apertão no lóbulo da orelha direita.
E não é que funcionava!
Era só ele avistar o cara e o botão imaginário impedia, que ele ouvisse tudo o que a criatura abjeta falava.
Então, certa noite, ao chegar um pouco alto da balada, o Gregório parou na calçada e viu o cara.
Imediatamente acionou o suposto botão, mesmo vendo que o homem se aproximava aflito e gesticulando muito.
Saboreando a própria surdez diante dos apelos angustiados do esmoleiro, o Gregório sentiu um aperto no peito e viu um filete de sangue escorrer pela camisa de seda branca.
No ato seguinte o Gregório caiu estendido na rua deserta, enquanto o esmoleiro segurava sua cabeça entre as mãos.
Pô, cara! Tentei te avisar que era um assalto, tu é surdo por acaso?
Agonizando, o Gregório levou a mão no lóbulo da orelha, mas já era tarde de mais.