O botão de liga e desliga

O Gregório se considerava especial entre os mortais.

“Sou lindo, inteligente e detesto interagir com a pobretalha”.

“Eles só servem para me servir e, de preferência, com a boca bem fechada”.

Assim pensando o Gregório criou uma aura em torno de si e, descontente com um cara esmoleiro, que rondava a porta do condomínio de luxo em que ele morava, e, já quase ao ponto de surrar o imbecil, o Gregório inventou um botão de liga e desliga, que era acionado com um apertão no lóbulo da orelha direita.

E não é que funcionava!

Era só ele avistar o cara e o botão imaginário impedia, que ele ouvisse tudo o que a criatura abjeta falava.

Então, certa noite, ao chegar um pouco alto da balada, o Gregório parou na calçada e viu o cara.

Imediatamente acionou o suposto botão, mesmo vendo que o homem se aproximava aflito e gesticulando muito.

Saboreando a própria surdez diante dos apelos angustiados do esmoleiro, o Gregório sentiu um aperto no peito e viu um filete de sangue escorrer pela camisa de seda branca.

No ato seguinte o Gregório caiu estendido na rua deserta, enquanto o esmoleiro segurava sua cabeça entre as mãos.

Pô, cara! Tentei te avisar que era um assalto, tu é surdo por acaso?

Agonizando, o Gregório levou a mão no lóbulo da orelha, mas já era tarde de mais.

Ondina Martins
Enviado por Ondina Martins em 17/08/2023
Código do texto: T7863567
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