A Rainha e o Grilo

Dona Saúva caminhava com sua folinha de pimenteira na cabeça, andando sem parar por cima do obstáculos...passava pelas pedras, evitava o corrego cheio e as outras plantinhas do caminho , até que tec, alguém andando pelo quintal naquela manhã, pós os pés no chão sem perceber, quem lá estava. O barulho, que se ouviu, foi da perninha quebrada de dona saúva. Ela desceu a folhinha e a beira do corrego, sob efeito da dor, em apuros começou a chorar...

-Aí, aí, aí, aiiiiiiii.

Do alto de um jambu, voraz a se alimentar dona lesma, acompanhou todo o incidente e foi a primeira a se expressar:

- Tão nova e preguiçosa... queria só um pé pra descansar. Do outro lado, numa adriça a descansar seu libélulo, após beber uma gota de água no corrego, ouvindo os prantos, apenas olhou indiferente, esfregou as patinhas e voo em outra direção. Outra formiga, de um reino distante se aproximou da parecida e disse:

- Deixa de drama, levante. E continue a trabalhar. Tu tens outras patas. Levante, isso não foi nada. Pois aqui, o tempo é instável, não demora chove e se não cuidares poderás mesmo ser arrastada pela água e morrer. E seguiu em sua viagem, com um filete de vassorinha na cabeça, como se nada tivesse acontecido.

Um grilo, que vinha bêbado da seresta daquela noite, enxergando duas formigas parou e ouvindo a dona Saúva prantear de dor, começou também a chorar e a dizer em palavras incompreendidas de suas amarguras. Falou do seu desemprego, falou, falou e dona Saúva, com tanta reclamação, meio que calou. Quando a ressaca do grilo foi passando, ele se deu conta, que precisava fazer alguma coisa, e disse:

- Desculpe, eu bêbado, me lamentando, pela perda do meu emprego e dos meus amigos e você aí, com sua patinha quebrada a chorar, que falta a minha. Mas espere um pouco já vou te ajudar. E ele oferecendo o seu ombro ergueu-a. Logo depois apareceu um vaga-lume, com um zangão abelhudo amigos de orquestra do seu grilo, que juntos fizeram uma maca improvisada para levaram até o seu formigueiro, onde outras formigas apareceram pra cuidar.

A rainha das sauvas, sabendo do ocorrido mandou ao grilo e seus amigos chamar. Quando eles de saída, voltaram lá, ela juntamente com sua filha agradecida, quis pagar:

- Caro grilo, vaga-lume e senhor zangão, quanto custou os seus serviços?

E o grilo humildemente curvando-se um pouco respondeu lucidamente, também pelos dois amigos :

- Vossa majestade, como nós poderemos cobrar?...solidariedade. Solidariedade a gente faz.

E a sauvinha toda enfaixada, com permissão da rainha contra- argumentou:

- Mas vocês foram os únicos, quem nos ajudou. Até uma formiga de outro reino se negou me ajudar. Dona lesma, me julgou e o seu libélulo indiferente ficou. Se não fosse pelo senhor e depois por seus amigos, na chuva tinha me afogado. Depois de argumentado pela sauvinha a rainha tomou a palavra e de novo perguntou:

- Seu grilo, não se faça de rogado e diga quanto custou.

O grilo já sóbrio, sentenciou:

-Vossa majestade, não tenho reino, não tenho bens e essa roupa que estou, me foi dado. Porém tenho amigos de verdade e na minha casa aprendi, que estamos aqui de passagem.

E continuou:

- Solidariedade, não se compra e nem se espera contrapartida. Dito isso, a rainha compreendeu a situação e aprendeu. Mandou fazer um banquete e contratou os serviços do seu grilo pra cantar com os seus amigos nas noites de lua cheia.