1184 - OS ULTIMOS MANDAMENTOS

OS ÚLTIMOS MANDaMENTOS

— Epa! Aqui em coisa! — Exclamou Teófilo, ao bater, de leve, seu martelo de arqueólogo sobre um fragmento de rocha, enterrada na areia.

Rodrigo e Rosélia deixaram os locais onde também escavam e se aproximaram de Teófilo.

Teo, com paciência e cuidado, raspava a areia ao redor da rocha. Aos poucos, foi-se revelando algo que espantou os três arqueólogos.

— Uma rocha talhada! — Disse Rose.

— Com gravações de uma escrita! — Arrematou Teófilo, ao limpar a rocha e trazê-la à luz do sol.

Ao se depararem com o pedaço de rocha, não se contiveram e entusiasmados, de maneira bem brasileira, gritaram “vivas” e “achamos, achamos”, chamando a atenção de meia dúzia dos trabalhadores contratados a preço de ouro , que os ajudavam nas escavações.

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Teófilo ,Rodrigo e Rosélia eram três arqueólogos brasileiros que há algum tempo escavavam as areias do deserto. O professor Teo acreditava que nas proximidades do Monte Sinai ainda existiam, enterrados na areia, fragmentos das primeiras “Tabuas da Lei” que Moisés havia quebrado. Encontraram apoio no Instituto de Arqueologia de Tel Aviv, em Israel.

O acampamento da equipe fora montado no deserto da Peninsula de Sinai, ao pé do Monte Sinai.

O professor de arqueologia Teófilo de Carvalho assim explicou aos seus companheiros, Rodrigo Losaires e Rosélia Sereneide, também arqueólogos de experiencia confirmada por diversos achados nas areias do deserto de Sinai:

— Vamos subir até uma plataforma na encosta do Monte que fica a mais ou menos a 1.500 metros de altitude, a partir aqui da base. Segundo a Bíblia, Aarão e os setenta sábios esperaram, enquanto Moisés recebia as Tábuas da lei, É alí que encontraremos, com certeza, as primeiras tábuas, quebradas por Moisés, desgostoso com seus seguidores por adorarem um bezerro de ouro, enquanto ele recebia de Jeová os dez mandamentos.

Já estavam trabalhando na área há muito tempo. Haviam encontrado três pequenos fragmentos de pedra, esculpidos em uma face, com sinais gravados, enviados ao Instituto em Tel Aviv.

A quantidade de areia removida formava um monte enorme, que aumentava a cada dia, pois os cinco ajudantes egípcios não se cansavam de transportar a areia solta das escavações.

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“Epa! Aqui em coisa! “

Quando Teo gritou aulas palavras o anunciando o achado, todos os empenhados nas escavações, inclusive os ajudantes egípcios se aproximaram. Vibravam e riam com o achado. Os ajudantes, chegaram a dar saltos, ensaiando uma dança. Para eles, o sucesso dos arqueólogos era sempre acolhido com alegria, pois significava brindes e bônus em dinheiro que os arqueólogos costumavam distribuir.

O achado era um fragmento de rocha muito dura, lavrada e com símbolos que à primeira vista pareciam desconhecidas. Tinha a espessura de, talvez, quinze centímetros. Quadrada, era pesada, pois media uns 50 de cada lado. Limpa da areia que por milhares de anos a encobria, era escura, tanto na face áspera como na face lisa, polida e na qual havia inscrições de uma aparente escrita.

Rodrigo e Teo carregaram com cuidado a pedra até um local onde já estavam fragmentos de outras peças encontradas naquela mesma ocasião,

Iniciam, de imediato, um exame acurado do achado, determinando as características que Rose ia anotando nas folhas de um caderno de capa dura, que seriam, em seguida, transmitidas ao Instituto de Arqueologia em Tel-Aviv, patrocinadora do projeto apresentado pelos arqueólogos brasileiros.

Não compreenderam o significado das inscrições. Não havia dúvida que era um texto escrito em idioma muito antigo.

— Sim, é um fragmento de uma rocha maior. — Disse o professor Teo .— Podemos ver que um dos lados foi cortado cuidadosamente, por um instrumento apropriado, a fim de não danificar a peça.

— E um “texto” - se assim podemos chamar esses sinais - está claramente dividido em duas partes. — Arriscou

— Está claro que não se trata de fragmentos das primeiras ”tábuas da lei” Moises quebrou no seu acesso de ira, pois é uma peça integra, com bordas e formato bem delineados, e os sinais estão bem centralizados na superfície.

— Vamos deixar esta tarefa para o pessoal do Instituto. Como se trata de peça muito valiosa, vamos levar pessoalmente a Tel Aviv. — Disse o chefe da equipe. — Vamos preparar para partir amanhã mesmo.

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O sol se elevou com a foça e o calor de um deus que inundava o deserto com uma claridade ofuscante. A peça arqueológica, já preparada, envolta por palha seca e amarrada em um grosso pedaço de lona, repousava sobre dois cavaletes.

Aguardaram por cerca de duas horas a chegada do helicóptero que transportaria a pedra até o Instituto Arqueológico. Colocada a carga com cuidado, Teófilo e Rosélia embarcaram a fim de entregar pessoalmente o importante achado arqueológico. Rodrigo permaneceu no campo de escavações, prosseguindo sem parar na procura de possíveis outros fragmentos.

Logo no primeiro exame que os cientistas (linguistas, datadores e outros especialistas) fizeram, evidenciou-se a importância do achado.

— Entretanto, disse o diretor do Instituto, teremos muito trabalho pela frente, pois os símbolos gravados não se parecem com as línguas antigas faladas pelos judeus na época que eles vagaram pelo deserto.

— E então....? — Indagou Rosélia.

— Como já fizemos das outras vezes, iremos comunicando a vocês o resultado de nossas pesquisas.

De volta ao campo arqueológico, Roselia e Teófilo retomaram, com Rodrigo, ao paciente trabalho de escavação. O local onde pesquisavam já estava a mais de dois metros da superfície, e a areia se tornava compacta, exigindo ainda mais cuidado dos arqueólogos e esforços dos ajudantes que retiram sem cessar a areia escavada.

Recebam do Instituto em Tel Aviv, quase que diariamente, informes sobre a “pedra”. A primeira conclusão quase óbvia para eles fora de que a pedra era um fragmento de outra maior, pois a parte cortada com instrumento deixava claro a separação.

Haviam decorrido mais de dois meses, com informações fragmentadas, quando receberam uma convocação:

— Temos algo interessante a comunicar a vocês. É algo muito bom. Desejamos a presença de vocês três para darmos a notícia à mídia. — Foi o próprio diretor que lhes falava pelo rádio do acampamento.

Na manhã do dia seguinte, Teo, Rodrigues e Rosalia embarcaram no helicóptero do Instituto, e foram levados para Tel Aviv. Ao chegarem no heliporto foram recebidos com efusão pelos funcionários , com sorrisos, tapinhas nas costas e “parabéns”. Foram levados ao diretor, o eminente cientista Doutor Aaran Kanevidir, que após os cumprimentos, fechou a porta de seu amplo escritório, e foi revelando:

— Conseguimos decifrar os símbolos da “pedra”. Para os senhores e a senhora vou dizer-lhes o que encontramos escrito em uma língua muito antiga, praticamente desconhecida da maioria dos pesquisadores linguísticos.

E narrou como chegaram á decifração, usando muitos recursos á disposição através da Internet, inclusive da novíssima técnica dita Inteligência Artificial. Para vocês posso revelar a “tradução” do texto, que, como aparecem na “pedra”, se divide em duas partes.

Ao saberem do conteúdo dos textos, os três arqueólogos, brasileiros que eram, deram abraços, riram e choraram ao mesmo tempo, e arrastaram o diretor para seus abraços, com um tanto de constrangimento da parte dele, diretor.

Após se recompor e assumir o ar de Diretor, o Dr. Aaran prosseguiu:

— Apenas lhes peço que se abstenham de comentar ou revelar com quem quer que seja, pois hoje ás 16 horas aqui no Instituto faremos ao mundo a revelação deste importante encontro arqueológico.

O sol quente das quatro horas da tarde entrava pelas janelas do imenso salão. Iluminando com luz o ambiente agitado do salão de conferências do Instituto Geológico de Tel Aviv. Estava repleto de convidados, tendo sido reservado uma grande área para jornalistas, repórteres, câmeras de TV, que lotavam também o local.

Às dezesseis em ponto, o Doutor Aaran Kanevidir entrou no palco, cumprimentou a todos e convidou seus colegas de trabalho, bem como os três arqueólogos Teófilo de Carvalho, Rodrigo Losaires e Rosélia Sereneide, para estarem ao seu lado durante a comunicação.

Explicou, a seguir, os objetivos do Instituto, falando de importantes peças arqueológicas encontradas por suas equipes espalhadas por todo o Oriente Médio e dando ênfase á equipe dos arqueólogos brasileiros, que pesquisavam os arredores do Monte Sinai.

Falou do encontro de diversos fragmentos encontrados e de uma peça que poderiam ser parte integrante das Tábuas de Moisés (sussurros de espanto na assistência), encontradas pelos três brasileiros (palmas esparsas pelos presentes.

— Enfim, submetemos a peça a exaustivos exames de todos os tipos para determinar a idade da peça. E mais exaustivamente tratamos da “tradução” dos sinais esculpidos. Devo dizer que para os arqueólogos, nada é surpresa pois lidamos com todas as civilizações do passados, e seus feitos, religiões, guerras e tudo o mais que ficaram registrados em pedra, monumentos, pirâmides, ruinas de idades e locais importantes. Milhares de anos, milhões de locais a pesquisar. Não nos surpreendemos com nada.

Correu o olhar pela plateia e manteve alguns minutos de silêncio, provocando um suspense quase palpável na multidão.

— Contudo, o “achado” destes três pesquisadores Brasileiros, arqueológicos persistentes, nos causou, a mim e a todos que colaboram neste Instituto, uma surpresa além do imaginável. (novos sussurros entre os assistentes).

— Eis aqui uma imagem da peça arqueólogica encontrada.

Assim dizendo, fez aparecer na imensa tela do fundo do palco, a imagem da pedra, que permaneceu por alguns instantes.

— E aqui a tradução do seu texto.

A imagem da pedra foi substituída por duas frases separadas em duas linhas

11 - Não fazer escravo de seu semelhante

12 - Não acumular riqueza

Um silêncio profundo e pesado pairou sobre os assistentes. Só se ouvia o leve chiar das filmadoras .

Após o quê, houve uma explosão de aplausos, de “Muito Bem!” e muitos gritos de alegria.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Conto numero 1184 da série

INFINITAS HISTÓRIAS

São Sebastião do Paraiso, 29 de agosto de 2023

A seguir, em contos desta série: Entrevistas com Doutor Aaran Kanevidir, professores de Arqueologia Teófilo de Carvalho e Rodrigo Losaires e a Emérita Professora de História Doutora Rosalia Sereneide sobre a Tábua dos Último s mandamentos

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Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 31/08/2023
Reeditado em 31/08/2023
Código do texto: T7874657
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