Tatuagens e vazios

Guarde no seu peito apenas os bons momentos. Finja esquecer o que você não sentiu. Sinta-se o melhor. Porque você é o melhor.

Mesmo vendo no olhar do outro que ele está magoado, ferido, frustrado, machucado até os ossos. Que a dor é transparente e lancinante. Sinta-se lisonjeado porque a sua crueldade atinge em cheio um coração que lhe é dedicado. Ignore tudo e siga forte e firme, pois lhe faz mais homem.

Faça-se indiferente.

Porque se for autêntico seus amigos não o reconhecerão.

Porque você é muitos desconhecidos. Até para você próprio.

Mas seria vergonhoso admitir que não entende, não conhece a mulher que lhe gerou a vida, que deixou sua vida para depois para priorizar a sua.

E você é frágil.

Não suportaria a responsabilidade de não saber. De não querer saber, seria pesado demais, doído demais e você prefere que seja diferente.

Admitir seria por demais doloroso.

E a vida precisa ser doce, suave, alegre e leve. Deixemos o peso para os velhos, para os cansados porque para nós, jovens, deve haver leveza, alegrias e nada de descaso, depósitos ou despropósitos.

Deixe suas tralhas na casa de sua mãe.

E não guarde nada de sua mãe em seu sagrado lar. Ocuparia um espaço desperdício. E isso é inconcebível.

As tralhas, as lembranças boas da infância, os primeiros trabalhos escolares tudo na casa da mãe.

No seu "lar doce lar" é tudo clean. Uma vida livre de passados. Porque passados pesam. As dores da mãe pesam e eu não escolhi isso. Fiz minhas escolhas e ela fica para depois do expediente. Para quando me sobrar um tempo, depois da minha diversão.

Ela pode acompanhar minhas conquistas pelo Instagram é tudo tão prático, basta um like, um amei. E nada de me perturbar com dores que não me pertencem. Cada um faz suas escolhas. E eu fiz as minhas e você não faz parte delas. Eu a amo muito e sinto muito. Peço desculpas, mas sou assim. Mãe você é a melhor. Tatuei em meu tornozelo o ano que iniciou seu sofrimento. Eu lhe homenageio e você não me entende. Vem me visitar e não me reconhece. E sai daqui chorando e a culpa é minha. Sou seu filho, não sua cura.

Madame Butterfly
Enviado por Madame Butterfly em 03/09/2023
Reeditado em 05/09/2023
Código do texto: T7877214
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