Overdose!

Estou cansado desta manhã sem brisa, enxarcada do cruel nada que torna minha rua fria e deserta.

Minha vida é um disco de liquidação, arranhado, de encarte rasgado e rabiscado, onde se lê versos triste de alguém que se foi no verão passado.

No meu mundo, Deus suicidou-se com uma navalha enferrujada, logo após o horário eleitoral. Só minha alma ainda quer viver, na mentira sarcástica de respirar nicotina e guarda-lá em mim, feito veneno que machuca e liberta, me arrancando os olhos.

Ontem eu era forte de amor - vocês tinham de ver - porém hoje guardo tudo em meus pulmões, de onde posso soprá-los e vê-los se misturando com a fumaça expulsada da boca de mulheres baratas e bêbados irremediáveis, notando que ali, meu amor, enfim, está em casa.

Isso me faz feliz...por um momento - que durasse pra sempre - penso que sou feliz...penso que toco na minha banda preferida...penso que a morte é minha amiga...penso que vivo meus últimos momentos divertidos...penso naquela loira louca que tragava no seu L.A e me beijava, passando a fumaça pra minha garganta e, depois, tapando minha saída oral com sua língua...saudades dela...mas, agora é tarde - pra mim, tudo foi tarde -... A seringa cai de minhas mãos já sem vida. Deixo meu corpo desfalecer ao lado do sanitário.

Um último pensamento me vem...minha mãe...vai ser foda pra ela!