Naquele Tempo ?...

Nos idos da década de 70 ou 80, não sei precisar, mas parecia moda em qualquer lar, a obediência cega da mulher confundida com servidão. Homens, eram homens, aproveitando asenhoramento de uma idade escura, onde a lei era omissa e tudo para eles, os homens podia.

Os brutos mandavam ver, amavam a seu bel prazer e da cozinha não podiam aprender, de limpar, de passar...tudo era coisa de mulher, que muitas mães já diziam:

- Sai dai menino, aqui é lugar de mulher. Vai fazer como o teu pai, trabalhe e estude pra ser alguma coisa.

Eles trabalhavam fora, andavam em boates, adulteravam, fumavam, se excediam na bebida e escandalizavam nas casas, nas ruas ou no bar, faziam o que queriam. E o prêmio, era a exaltação como aprovação social, ouvindo dos íntimos, amigos, irmãos, avôs e pais:

- Meu filho, é macho. Tem que ser assim, falar mais alto e mostrar quem manda.

Em muitos lugares, casados ou não se juntavam a falar :

Andei com essa e com aquela... ah aquela ali, já passou na mão do fulano, do sicrano...

- Sabe aquela, coloquei-a pra morar num apartamento, que só eu vou visitar.

Falavam com orgulho de uma hegemônia, demarcação territorial, supremacia racial em nome dessa lei, que nem sei... mas que tudo homem pode e a mulher não.

Usando sempre o jargão como dito popular :

- Minha mulher é uma santa, o que ela sabe bem fazer é cuidar... cuida de mim, da casa e dos meninos. Isso é que é mulher.

Assim, aproveitavam pra em coro dizer :

- Amélia é que era a mulher de verdade!... E assim se seguiam as modas na década da discoteca.

As músicas, as informações e inúmeras revistas a expor o corpo da mulheres, como mercadoria pra quem tivesse dinheiro ir lá e comprar. Quem podia comprava e quem nem tanto, só pra sonhar ou comentar se servia da revista pra uso particular; pra enfeitar garagens, quartos , bares ou banheiros, e tantos outros lugares. Afinal, de Ditadura a Democracia o caminho sempre seguia a hipocrisia, como forma de uma vida que pra alguém servia.

Após um jogo de futebol pelada, as modas antiga com os meu coleguinhas, a sede me assediou e na volta pra casa, caminhando por minha antiga rua, vi num anúncio de uma casa, vende-se chopp de maracujá, de abacate, de coco e de k suco a minha salvação.

Todavia, só pra não deixar de dizer, pra quem não é do norte, o chopp é um suco na sacolinha de plástico, que como de costume, á época me arrisquei a ir comprar pra combater aquele calor e mitigar a minha sede ao desgaste n futebol e também ao sol forte da minha região.

A janela aberta indicava, que havia gente na casa, então fui a janela aberta e esvoacei a voz no ar gritando:

- Ô de casa, tem Chopp. Oi...tem alguém aqui?...

Nenhuma palavra foi dita ou ouvir. Cansado de esperar resposta, quase desistir, mas alguém da área, por conhecer o costume e pra ser solidário, me falou:

- Ei moço, vá pelos fundos, que as vezes, eles não ouvem.

Logo agradeci e assim o fiz. Segui na escalada pela lateral daquela casa esverdeada, com lampejos de uma cor branca em partes da janela e das portas cheguei a cozinha. Meio que desconfortável, porque pra mim não era comum entrar daquela forma em uma residência, embora aquele transeunte houvesse me assegurado.

Lá chegando antes de gritar, fui surpreendido com a aquela visão inusitadamente violenta, pra minha cultura. Um senhor já de meia idade, encurralando obedientemente uma senhora a parede, que supus ser a sua esposa e ali, lhe aplicando religiosamente umas lambadas de cinto, como a surrar um filho, e falando austeramente qualquer coisa como:

- Tu não tens nada que remexer na minha carteira. Fica calada e não grita, sua sem vergonha. Entre outros palavrões de baixo calão, que eu só ouvia na boca dos meus colegas de rua e que Deus me livre, ousar em casa falar tal vocabulário. era morte certa.

Nessa viagem imaginei, como se ele fosse o capataz e ela a escrava. Mas quando minha presença se fez notar, como a de um suposto abolicionista, sem eu nada dizer, eles ficaram imóveis e sem saber o que fazer.

A minha reação, além do tupor, de imediato foi o de correr, entrar na no carro do Dr. Brown e voltar ao futuro, porque eu poderia até ser a próxima vítima.

Saindo divagando pelas esquinas até chegar em casa, pulei pela janela e entrei sem dizer nada a minha avó, que perguntará, mas eu deixei dito no ar, que fora apenas uma traquinagem.

Na sala, sob o efeito de um filme de suspense ou policial, ainda ousei olhar a janela, pra ver se não tinha sido seguido.

Tudo tranquilo, aos poucos fui me arrefecendo com os meus brinquedos, puxei o time de botão e os arrumei ali no chão, e me distraindo, distraindo até esqueci. Digo ignorei, porque aquela prática era tida como comum, talvez normal na sociedade de então. Só que pra mim nunca achei certo, por isso, também jamais esqueci.