Amigos, amigos, papagaios a parte.

Oriundo da cidade chegou um macaco, ainda novinho, para se readaptar a floresta e deparou logo com uma reunião, que a bicharada fez pra avisar a todos, pra não ultrapassarem os limites da mata fechada, porque muitos animaizinhos haviam desaparecido e corriam boatos, que nas cercanias havia uma velha senhora, que gostava de comer caça.

Ninguém ainda sabia, mas havia entre eles um papagaio infiltrado, que foi domesticado por ela. E observando, parecia muito dedicado anotando tudo o que foi falado, inclusive os bichos mais novos como o macaco recém chegado, prato perfeito pra sua sócia. E se aproximando como amigo, fez logo o seguinte convite ao macaco:

-Macaco, como você é novo aqui, te informo, que se você precisar comer, sei de um lugar, que tem frutas deliciosas.

O macaco, que nada conhecia da mata respondeu:

- Fico agradecido, mas você ouviu na reunião, temos que ter cuidado. Não devemos nos afastar dos limites da mata.

O papagaio, como ele só pra persuadir disse:

- Macaco, mas eu, sou o único aqui, que sei de um lugar, que só tem frutas deliciosas e só preciso de um amigo pra ir comigo lá. Pois acredite é uma fartura, que sozinho não consigo carregar.

Pensativo o macaco coçando a cabeça concordou, mesmo mal conhecendo o seu amigo de penas .

E continuou o papagaio:

Não há perigo, além de bananas, tem fartura em goiaba e outras tantas frutas.

O Macaco agoniado, vindo da cidade, sem conhecer a malandragem da mata, não percebeu a facilidade e falou:

- Você me leva lá, amanhã?

Sem prerrogativas o papagaio falou:

- Mas é claro, que sim, de manhã te levo lá,

E se despediram, cada macaco pro seu lado, digo papagaio e macaco.

No que o macaco voltava prá casa se esbarrou com uma coruja, que os observava a distância e o alertou:

- Ouvi aquele papagaio lhe convidando pra algum lugar . Olhe macaco, quem avisa amigo é, não vá atrás do papagaio. Ele aqui não muito bem conceituado, é meio desvairado. E outra, você não ver, que ele tem asas e pode voar , mas você, que veio da cidade, mal sabe pular de galho em galho. Minha mãe, sempre dizia, pra eu escolher com cautela os meus amigos.

Então o macaco, com a sua coceira costumeira na cabeça, começou a pensar alto:

- Pois é, qual seria o interesse do papagaio em me levar lá ?... Ouvi de um Urubu, que certas companhias põe a perder hábitos de família. E pensando, pensando chegou a uma conclusão:

- já sei, quando ele vier com conversa mole , falo que não vai dar. Dito e feito, quando o papagaio chegou, o macaco de pronto falou:

- Desculpe papagaio, mas hoje não vai dar.

Papagaio falou:

- Por que já, estava tudo certo?...o senhor afrouxou?

Macaco replicou:

- Não, acontece que eu amanheci com dor de barriga. Deve ter sido algo que comi na cidade. Vá você lá e me traga uma banana, só pra eu apreciar.

Assim o papagaio, que era de propriedade doméstica da velha, esperou escurecer e foi a janela dela dizer:

- Preciso de uma banana, pra poder convencer um macaco, que veio da cidade e ainda nada sabe daqui.

E assentou num girau da casa, de frente pra janela, a velha senhora sorridente, abriu um lado pra conversar com o seu mascote. Combinando ali o dia do bote, ela então entregou dum lote, uma banana pro pagaio levar ao macaco.

No segundo dia o papagaio chegou lá na casa do macaco, deu-lhe a banana e falou:

- Que tal, o que você achou do gosto?

Macaco todo entusiasmado falou com aquela cara de coitado:

- Hum, muito gostosa. Amanhã vamos lá.

E o papagaio retrucou:

- Mas você não ia hoje?

E o Macaco respondeu:

- Só que a dor de barriga ainda não passou. Como a banana trava, me traga outra amanhã, que devo estar melhor e contigo vou lá.

O papagaio, não gostou, mas não demonstrou estar chateado e se foi, cantando baixinho:

- Cururpaco, papaco, papaco, hoje eu quero a mulher do macaco.

O macaco, apesar de novo, se pôs a pensar no que a coruja falou e decidiu, que iria o papagaio testar.

O outro dia, mal o dia mal começou a clarear e o papagaio já estava na porta do macaco a lhe pressionar:

- Macaco, macaquinho, está aqui a sua banana, agora vamos lá.

E o macaco, já pré avisado respondeu:

- Sinto muito meu amigo, mas ainda estou adoentado, acho que aquela banana me fez piorar.

E o papagaio, um pouco irritado disse :

- Macaco, tá sua outra banana, como você me pediu, porém se você não for amanhã pode esquecer.

E pela noite, o papagaio foi se desculpar com a sua dona, que os esperou por toda aquela manhã.

Aquela senhora idosa já aborrecida com tanta demora reclamou:

- Olha papagaio, nessas idas e vinda, perdi do meu cacho 2 bananas e a panela está no fogo a dias, sem nada pra cozinhar. Só te digo isso, senão me trouxeres amanhã o macaco, tu és quem vais pagar .

O papagaio seguiu triste a se coçar pro seu poleiro escondido.

De longe o macaco, que resolveu seguir o papagaio, estava a observar todos aqueles movimentos na escuridão. Achou estranho, uma casa no meio da mata e um papagaio de papo aberto com uma idosa.

Voltando pro seu galho ficou a matutar e resolveu chamar a Coruja para participar do ocorrido.

Na madrugada a coruja convocou uma reunião extraordinária com bicharada e notaram a falta do papagaio. Justificada pelo que o macaco da cidade delatou:

- Foi isso pessoal, eu o vi conversando na sombra escura, quase no fim da mata, com uma velha idosa, como se há tempos a conhecesse.

Sob essa acusação veio a tona muitos sumiços dos animais, que implicava a presença do papagaio, nos locais. Então a coruja tomou a palavra e combinaram inconfidentes, que pela manhã daria um jeito.

Dessa forma, aquele dia amanheceu. E um pouco mais tarde o papagaio apareceu na casa do macaco com uma goiaba, aparentemente deliciosa e a insistir, disse ao macaco:

- Que tal essa agora?

O macaco respondeu:

- Hum essa outra fruta, parece até mais gostosa.

E o papagaio aproveitou e disse:

- Como essa e aquelas, que trouxe tem bastante. Vamos lá compadre, tem comida de graça, aquelas bananas e essa goiaba são amostras grátis. Pois tem açaí, bacuri, cupuaçu, ingá, manga, mamão, banana, sapotilha e tantas outras frutas, você vai gostar.

O macaco já devidamente orientado nem pensou e disse:

- Vamos lá.

E saíram no estirão da mata, o papagaio voando e o macaco passando de galho em galho, até que chegaram lá.

Aquela velha matuta, esperta que nem só, saiu da casa pra esperar pelo lado de fora com uma espingarda. Acontece, que a bicharada chegou no inicio da alvorada e ficaram a espreita nas árvores ao redor da casa.

Quando o papagaio chegou voo pro cume da cerca, o macaco, que acabara de aterrissar no chão vindo de cipó, começou a escalar as madeiras. E subindo, subindo, enquanto o papagaio ficava a cantar:

- Urucupaco, papaco, papaco, nos vamos nos empanturrar.

A velha matreira, de tocaia na beira de mata se preparando pra atirar, quando do nada abelhas, cabas e mutucas se encarregaram de lhe desentocar. Ela saiu em disparada, largando a sua arma e a gritar sem rumo dizia:

- Socorro, esses bichos estão doidos, vão picar a vaca leiteira. Em seguida, a cobra cipó passou a muxingá-la nas pernas, não muito depois os pássarinhos davam rasantes a bicar a cabeça dela e por fim, os queixadas, a onça pintada a botaram pra fora da mata.

O papagaio, quando viu sua dona sendo surrada, tão traumatizado ficou, que não conseguiu sair do lugar e perdeu a fala.

Do alto da mangueira a coruja a comandar mandou a casa incendiar. Dizia ela num só pipilar:

- Remédio de doido é doido e meio. Queime a casa pra ela nunca mais voltar.

O Macaco pegou o seu cipó e a se juntar a coruja só assistia rindo e comendo bananas como um bobo da corte.