O Grilo

O Grilo

A noite parecia interminável. O extremo calor gerava desconforto e impaciência, impedindo a chegada do sono regenerador e nem o ar condicionado resolvia o problema. O dia tivera temperaturas que lembravam um vulcão em plena atividade. A ingestão de líquidos fora tão exagerada quanto o ardor proporcionado pelo Astro-rei e a região abdominal estava bastante avantajada, podendo “explodir” a qualquer momento (rs..rs). A inquietação causada pela “barriga d”água” momentânea contribuía para o afastamento da fada dos sonhos. Tentei contar carneirinhos, mas eles não tinham forças pra pular a cerquinha tradicional da contagem.

O jeito foi levantar e sentar-me na cadeira da varanda onde estava menos quente e quem sabe pudesse dormir, mesmo que sentado, pensei. E assim fiz, aconcheguei-me com vontade e senti logo a diferença, foi uma boa idéia, as pálpebras já tomaram conta da situação e se fecharam sem esforço, a pança ainda atrapalhava um pouco, mas nada tão preocupante.

Comecei a cochilar e já me preparava para os roncos costumeiros quando escutei o som que seria a gota que faltava para transbordar minha caneca da paciência , cri, cri, cri, cri, sim, era ele, o inimigo número um dos adoradores de sonhos, com seu famigerado cricri patenteado pela “Generation Reactionary Intercept Líric Oscorp “ também conhecida por “GRILO” que se apresentava para seu concerto noturno característico. Levantei-me meio walking dead e fui à caça do inoportuno visitante para silenciá-lo ou pedir-lhe com “carinho” que fosse apresentar-se em outra “casa de espetáculos”, pois não curtia seu repertório. Acendi as luzes e...silêncio, apaguei e dez segundos depois recomeçou a cantoria.

Para não “incomodá-lo” mantive a luz apagada e tentei guiar-me pelo som, mas antes, municiei-me com uma “lanterna e um havaiana piratas” adquiridos com o cartão de crédito em um “ching ling” do bairro para pagar em seis parcelas sem juros, foi um negócio da China, e esse “armamento” de qualidade duvidosa iria me servir nesse delicado momento da perturbação do meu sagrado sossego. Sorrateiramente fui seguindo o estridente trilado da criaturinha inoportuna sem acender a luz da lanterna, pois isso o calaria com certeza, esses bichinhos são espertos e muito sensíveis à ruídos alheios, mas quando começam a cantoria só param se explodirem ou alguém os silenciar e como não podia contar com a primeira opção, apelei para a segunda, afinal eu já estava bastante “grilado” por conta do calor e suportar esse “matuto” trilando nas minhas orelhas era inconcebível.

Fui me aproximando sutilmente do local aonde supostamente vinha o som e o pequenino intruso não se abalou ou não percebeu, pois continuava a todo vapor sua “ópera de uma nota só”, e quando tentei acender a lanterna ela falhou, tentei mais algumas vezes e nada, caramba, pensei, será que não carreguei essa porcaria? De fato, tinha comprado havia dois dias, mas lembrei-me que havia deixado carregando por doze horas como diziam as instruções e porque não acendia? Deve ter vindo com defeito, amanhã vou lá trocar, porém ali naquela divagação sobre o defeito da lanterna, percebi que o trilado havia cessado. Fiz silencio, esperando o retorno do tormento, mas ele não veio, mais dez minutos e nada, menos mal, pensei, deve ter explodido.

Relaxei novamente, acomodei-me na velha cadeira da varanda e agora sim estava tudo perfeito, até o calor tinha amenizado um pouco. Fechei os olhos e entreguei-me à deliciosa sensação que chegava do necessitado descanso. Nada tiraria meu sono, pensei, antes de ouvir: cri...cri...cri...

Pedro Martins

25/09/2023

Pedrinho Poeta Pitangueiras sp
Enviado por Pedrinho Poeta Pitangueiras sp em 22/10/2023
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