A viela

Ao andar pelas ruas da minha cidade, atravessei uma viela que levava a um conjunto de pequenas casas, praticamente casebres. Não tinham a aparência de lares, assemelha-se mais a abrigos de guerra improvisados com qualquer coisa disponível para se proteger rapidamente das bombas. Havia muitas crianças descalças exibindo barrigas enormes. Elas olhavam-me desconfiadas, mas também curiosas, um misto de querer saber sem querer se aproximar. Eu apenas continuei andando.

Defronte a uma das casas, uma mulher estava sentada, rodeada por pequenos: meninos e meninas que pareciam variar pouco na idade. No total, contei seis crianças, incluindo a que estava no colo da mulher sendo amamentada. Continuei andando, agora levemente incomodado, como se aquele lugar sugasse minha energia para caminhar.

Mais à frente, avistei mais crianças de várias idades tendo suas cabeças raspadas por uma senhora. Todas tinham essa mesma aparência: cabeça raspada e abdômen estufado. O ar estava ficando mais pesado. Já no final da minha caminhada pela viela, um homem deitado na calçada chamou minha atenção. Igual a tantos outros pedintes que pareciam combinar na forma de se apresentar, estava deitado sobre uma caixa de papelão dobrada, sem camisa, mostrando intensa magreza, cabelos e barbas longas, já esbranquiçadas, com um olhar sem ambição alguma.

O homem me interpelou, como era de se esperar nesses casos, perguntou se eu tinha alguns trocados para lhe dar. Eu neguei com um aceno de cabeça. Sem mais insistência, o homem se recolheu de volta ao papelão. Não se pode ajudar qualquer um dessa forma. Quem sabe o que faria com o dinheiro? Comprar drogas, certamente. Enfim, atravessei a rua, deixando para trás aquela atmosfera pesada da viela. Fiquei aliviado, retornei à minha realidade e continuei andando.