Querosene no jantar

Naquela cidadezinha do interior do Tocantins, sem energia elétrica, o cair da tarde dava sinais de que suas casas seriam iluminadas pela lamparina, a qual era abastecida de querosene.

Na casa da família Silva havia lamparinas na sala, nos quartos e na cozinha.

Às 19h, o pai e mãe chamaram as crianças para o jantar. Era um jantar simples, porém suficiente para mantar a fome.

O dia de trabalho braçal tinha sido cansativo.

As crianças, após chegarem da escola, estavam com muita fome porque o único lanche tinha sido a merenda escolar.

As panelas de arroz, de feijão e de peixe cozido foram postas na mesa. Uma tigela de farinha de puba complementava o jantar.

Após a oração de gratidão, a mãe começou a servir o alimento aos filhos menores.

O pai, com muita fome, pôs arroz e feijão em seu prato.

O menino maior, cerca de 14 anos, estava ansioso pelo jantar, mas ao levantar-se da cadeira para pegar a colher que serviria o arroz, bateu o braço na lamparina que estava colocada no centro da mesa.

Bruscamente, a lamparina caiu sobre a mesa e derramou um pouco de querosene. O cheiro forte trouxe preocupação à família que estava faminta.

Rapidamente, o pai pegou a lamparina, ainda com o pavio acesso, e olhou cuidadosamente se havia querosene nos alimentos.

Para satisfação daquela mãe, e de seus oito filhos, a querosene tinha caído ao lado da panela de feijão.

Removeram a toalha da mesa, e mesmo ao forte cheiro daquele combustível, conseguiram jantar.

Agora saciados pelo arroz, feijão, peixes e farinha de puba, o pai e a mãe disseram às crianças que iriam dormir tranquilo.

O novo dia seria de trabalho, porém a maior expectativa era a de um novo jantar sem querosene.

Após dois meses desse episódio a energia elétrica chegou à casa da família Silva.

A partir de então a querosene ficou apenas na lembrança, não no jantar.