Inabalável

No chão, ao pé do muro três cachorros ainda meninos latem procurando briga.

Em cima do muro o gato deitado sobre as patas escondidas, apenas mexe as orelhas, com olhar sisudo, incomoda -se , mas não se abala..

Do outro lado da rua, duas pombas passeiam sobre a areia lavada pela chuva, não querendo se meter em questão alheia, afastam-se tranquilamente, cuidando dos próprios assuntos entre si. Os cachorros latem , elas seguem inabaláveis.

No canteiro da rua, a malva cresce e floresce e as borboletas aparecem, parecem que são pétalas levadas pelo vento, das mesmas flores amarelas. E os cachorros latem, e o gato olha, e as pombas andam, e as flores desabrocham, e as borboletas voam e todos seguem inabaláveis.

Na rua da frente, uma criança alheia ao conflito animal que acontece ali pertinho, carrega balões multicoloridos, em sua pequena mãozinha. O vento arranca-lhe quatro balões vermelhos que juntos formam uma flor.

A menina chora, enquanto o vento leva embora cada balão que se soltou.

A menina segue em frente, um pouco descontente e os balões vão brincando pelo chão, saltando pelas pedrinhas sem imaginarem o risco que correm. E vão pulando, levados pelo vento, inalcançáveis e inabaláveis.

E os cachorros latem, e o gato olha, e as pombas andam, e as flores desabrocham, e as borboletas voam e os balões se soltam e todos seguem inabaláveis.

E os cachorros cansam de latir, e a menina se consola com os balões que tem, a respeito dos que foram embora, e a vida segue inabalável.

E uns chegam, e outros partem, e todos passam e o fluxo segue inabalável.