SEGREDO REVELADO

Mal havia pronunciado a última palavra e já se arrependia de haver falado. Maldita impulsividade, que fez vir à tona o que não deveria sequer ser imaginado!

Tanto tempo guardando em segredo, trancando a sete chaves, obedecendo à voz da razão e do bom senso.

E de repente, num assomo de rebeldia, numa explosão de sentimentos

sufocados, no desespero da verdade trancada na garganta, eis que tudo é revelado.

Quer voltar atrás, consertar, apagar o que foi dito...

O arrependimento, chumbo no coração, esmaga qualquer ilusão que por acaso ainda teimasse em existir.

Mas é tarde, o mal está feito, o que até então existia somente no

mais profundo do ser, cria vida, toma forma, palavras que lhe

escapam, sem controle.

Abelhas enfurecidas, a tudo ignorando em sua investida.

Estranhamente após a primeira reação de susto e remorso, sente um certo alívio.

Já não precisa fingir, mudar de assunto, evitar situações perigosas, quando mal conseguia disfarçar.

O coração está mais leve e até o remorso já não é tão grande. Sente-se livre, sem mais mordaças...

E daí que falara?

E por que havia de sempre ter que calar, sufocar a enorme mágoa que lhe corroía o peito, que levava à mentira, à dissimulação, contrárias aos seus princípios?

Falara e pronto! Já não sente culpa. E afinal, deveria?

Culpada é a vida, que nos coloca em situações conflituosas, obrigando a parecer o que não somos.

Sente-se em paz. Alma e consciência, lavadas.

Até a dor não é mais a mesma e o sentimento que escravizava perdeu a força.

Vai ver era somente fantasia de um coração romântico e solitário, que

apenas pela impossibilidade atingira tais proporções. Agora, revelado, tornado concreto em palavras, adquire sua real dimensão.

Quanto tempo perdido alimentando ilusões. Certamente frutos da

mente atormentada por tantos sonhos não vividos...

Sorri, é quase feliz... E tem certeza de que, em breve, realmente o será.

E se vai, deixando no ar apenas o eco das palavras. Já não são abelhas, mas borboletas, voejando...

Deixam atrás de si a amargura e a tristeza e, acima de tudo, alguém atônito, surpreso, profundamente curioso...

Ligia Lacerda
Enviado por Ligia Lacerda em 18/01/2008
Reeditado em 11/07/2009
Código do texto: T822755