Saídas

Ela ia abrindo a porta do carro, quando sentiu a mão dele sobre a sua. Olhou para ele e percebeu que ele estava sério.

- Você se esqueceu outra vez de que sou eu quem abre as portas para você – ele disse.

Ela rapidamente retirou a mão e olhou divertida para ele. Ele abriu a porta, ela entrou. Ele se sentou a seu lado.

- Aonde vamos, minha querida?

- Aonde você quiser, ela respondeu, sorrindo novamente.

Ele colocou os óculos, deu a partida e foram, meio sem rumo - como estava sendo ultimamente a relação entre ambos. Ela lembrava da conversa de há pouco, feita em meio a um abraço e sobre os lençóis.

- Estamos num paradoxo: meu amor por você é que pode nos afastar. Porque desejo você todos os dias a meu lado, e não é essa nossa realidade. Se eu não o amasse tanto, poderia me distrair pelo caminho, e a espera ficaria mais fácil. Mas enquanto eu estiver cega para outros olhos, a espera por você se torna um caminho difícil e triste...

- Mas seria um afastamento, de qualquer forma! Antes, estarmos longe era exceção, enquanto a regra era estarmos juntos. Hoje as coisas se inverteram, e infelizmente a vida não é feita de exceções, e sim de regras. Cheguei a pensar que te faço mais mal do que bem, e que talvez fosse melhor sair da tua vida. Mas sou egoísta e não faço isso, porque não quero te perder. Eu tenho certeza de que te faria feliz estando a teu lado...

- Mas não está.

- Eu sei.

Suas lágrimas estavam molhando o travesseiro. Ele as enxugava com carinho, olhando fixa e ternamente nos olhos dela.

Ela suspirou:

- Eu quero viver!

- Você merece viver, ele respondeu. Você merece ser feliz.

- Então, o que faremos?

Ele a olhou sério e fundo, e ela teve a impressão de que lia seus pensamentos. De repente, ele deu um pulo, saltou da cama e, jovialmente, disse:

- Vamos almoçar.

Vestiram-se e beijaram-se longamente. Ela pegou a bolsa e ia abrindo a porta para saírem, quando ele pôs a mão na maçaneta, dizendo com voz grave:

- Sou eu quem abre as portas para você...

“E fecha também”, ela pensou, sorrindo tristemente de seu cavalheirismo anacrônico.