UMA DEUSA NO MEIO DA TARDE
Seu corpo perfeito, emoldurado pelo elegante e justo vestido preto, ondulou, qual uma aparição fantástica, ao compasso dos seus passos suaves, diante dos olhos embasbacados de todos os homens sentados nos bancos da praça.
Ela percorreu lenta e suavemente, como numa provocação excitante, os cinqüenta e poucos metros entre o seu carro do ano e a banca de revistas. Depois retornou, pelo mesmo caminho, linda e indiferente, exalando no ar o cheiro pecaminoso, lúbrico e sensual, de seu corpo de deusa pagã.
Cabelos ao vento, olhar ausente, boca úmida de lábios vermelhos cheia de deliciosas promessas de prazeres infinitos não-ditas. Ela entrou no carro e se foi, deixando todos ainda estáticos, boquiabertos e pálidos como se tivessem visto um fantasma.
Naquela noite, os sonhos seriam os mais loucos e inesquecíveis e as esposas, surpresas e drsconfiadas, se encantariam com as performances de seus maridos.
(Do livro “Punhal de Dois Gumes”, Edições Uirá, 1994)