Mini Conto de Amor

A primavera espalhou-se lentamente pelo jardim que cercava a casa. Nem tão serenamente em seu coração, Isabel esperava por seu amado em todos aqueles dias primaveris, no portão.

Passava em seus adolescentes pensamentos, turbilhões de cenas, cores, sorrisos, olhares, odores.

Impreterivelmente, quando o sol começava a se por, estava sempre com a mangueira em punho regando sua flores, suas ervas, pois, sentia ser este o momento perfeito e mais feliz do seu dia, pois o mais importante era o complemento de saber que o veria.

O colorido do céu, o cheiro da terra molhada, e a vivacidade das plantas, alimentavam sua alma de mulher. - E ela, como em nenhuma hora sentia-se bela, plena como o pulsar da própria vida.

Seu coração acelerava feliz com a proximidade das horas - da hora em que seu amado chegasse.

Ele chegou.

Passou por ela, e a cumprimentou. Guardou o carro, fechou o portão e despediu-se com um contido sorriso.

E lá ficou ela, menina, perdida, com a beleza do comecinho da noite, a divagar como seria se, naquela casa pudesse estar, com o homem que foi seu amor na juventude, a cinquenta anos passados, e que por convenções e medo lhe disse não, embora quisesse o contrário.

Em meio a seus devaneios, uma voz grave ela ouviu chamar seu nome. Era seu marido querendo saber a que horas sairia o jantar.

Dona Isabel com um suspiro, misto de resignação e felicidade momentânea, olhou para o céu, e viu agora a lua prateada como seus cabelos. Deixou para trás suas plantas regadas, o cheiro da terra molhada, recolheu a mangueira e seus sonhos, e entrou para sua casa, para sua realidade.

Não percebeu que, do outro lado da rua, por detrás da cortina, estava a lhe espiar aquele que também a amou um dia, e que continua a amar.