"Praticidade" =Mini conto=

- E aquele cara que jurou que ia te matar? O que disse que ia encher a tua cara de bala?

- Mortinho da silva.

- Não diga! Você matou ele primeiro?

- Foi o jeito...

- Tiro, facada?

- Que nada. No improviso.

- Conta aí, amigo. Agora eu fiquei curioso. O cara dava dois de você, no mínimo.

- Pois é. Tive que usar a cabeça.

- Matou ele na cabeçada?

Os dois riram.

- Foi mais bonito. Deixei recado no boteco pra ele. Pedi pro dono dizer a ele que eu ia passar na casa dele, dar uma comida na mulher dele e que depois iria pra minha casa esperar por ele.

- O cara do boteco deu o recado?

- Direitinho. Ele montou naquela moto gigante dele e saiu deitando o cabelo até a casa dele pra buscar a arma. Queria cumprir a promessa de me encher de bala. Foi aí que se ferrou de vez.

- Desembucha logo, homem! Tô curioso pra...

- O grandão tinha mania de andar de moto sem capacete e até sem camisa. Ajeitei um cerolzinho* no caminho até a casa dele. Depois foi só esperar pra confirmar a morte. Fácil, rápido e sem pistas.

- E barato.

*Diminutivo de “cerol”, como é chamado em São Paulo a linha

na qual se passa cola, recobre-se de vidro moído, e usa-se para

cortar as linhas de outras pipas, e que já ocasionou inúmeras

mortes de motoqueiros e ciclistas.

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 15/02/2008
Código do texto: T861116
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