"Praticidade" =Mini conto=
- E aquele cara que jurou que ia te matar? O que disse que ia encher a tua cara de bala?
- Mortinho da silva.
- Não diga! Você matou ele primeiro?
- Foi o jeito...
- Tiro, facada?
- Que nada. No improviso.
- Conta aí, amigo. Agora eu fiquei curioso. O cara dava dois de você, no mínimo.
- Pois é. Tive que usar a cabeça.
- Matou ele na cabeçada?
Os dois riram.
- Foi mais bonito. Deixei recado no boteco pra ele. Pedi pro dono dizer a ele que eu ia passar na casa dele, dar uma comida na mulher dele e que depois iria pra minha casa esperar por ele.
- O cara do boteco deu o recado?
- Direitinho. Ele montou naquela moto gigante dele e saiu deitando o cabelo até a casa dele pra buscar a arma. Queria cumprir a promessa de me encher de bala. Foi aí que se ferrou de vez.
- Desembucha logo, homem! Tô curioso pra...
- O grandão tinha mania de andar de moto sem capacete e até sem camisa. Ajeitei um cerolzinho* no caminho até a casa dele. Depois foi só esperar pra confirmar a morte. Fácil, rápido e sem pistas.
- E barato.
*Diminutivo de “cerol”, como é chamado em São Paulo a linha
na qual se passa cola, recobre-se de vidro moído, e usa-se para
cortar as linhas de outras pipas, e que já ocasionou inúmeras
mortes de motoqueiros e ciclistas.