Sexta-feira 13

Não é mentira! Foi assim mesmo que aconteceu.

Eu estava na aula, até aí tudo normal, quando o professor de matemática falou “peguem caneta, lápis e borracha, e guardem o resto do material, que a prova vai começar”. Prova? Bem, sim, ele até avisou na semana passada, mas... Veja bem, não é que eu simplesmente tenha esquecido, hoje é sexta-feira 13! O dia conspirou para que eu não lembrasse!

Então, eu pensei “hoje é um dia amaldiçoado. Se eu fizer esta prova, com certeza vou mal. Preciso inventar uma desculpa”. Tá, eu sei que, bem na hora do teste bimestral, provavelmente ele não iria acreditar em mim, apesar de eu nunca contar mentiras, mesmo assim falei “professor, eu estou passando mal, acho que vou vomitar!” A gargalhada na classe foi geral, e o professor, com cara de desconfiado, me liberou para passar na enfermaria.

“Mas hoje é sexta-feira 13”, eu lembrei. “Se eu for à enfermaria, vão dizer que eu inventei tudo, e vão me deixar de recuperação. Não posso correr este risco”. Pedi, então, para o Fábio pegar minha mochila no final da aula e trazer para casa pra mim, e dei um jeito de escapar para a rua.

Eu até ia pegar um ônibus e voltar direto para casa, e contar tudo o que aconteceu. Mas, num dia como este, o ônibus poderia ter sido seqüestrado por algum bandido, e talvez eu nunca fosse chegar em casa. Perigoso demais, achei melhor voltar a pé. Melhor, resolvi até mesmo fazer um caminho bem diferente do normal, pois como é sexta-feira 13, poderia ter algum ladrão ou psicopata pelo caminho.

Por coincidência, o caminho que eu escolhi passou pela lan-house. Achei que seria mais seguro ficar um pouquinho lá dentro, protegido no meio de um monte de gente, ainda mais nesse dia em que tudo poderia acontecer.

Na lan-house, não ia ficar lá sem fazer nada, né? Resolvi jogar uns jogos on-line, só para matar o tempo até passar o perigo de voltar para casa, O problema é que, como hoje é sexta-feira 13, eu estava totalmente sem dinheiro. Tive que fazer uma proposta para o dono do lugar, que já me conhece faz algum tempo. Apenas de vista, viu? “Claro”, ele respondeu, “não tem problema algum, pode me passar o nome e telefone do seu pai, e ele acerta comigo depois!” Que sorte, ainda mais no dia em que estamos, não?

Mas eu sabia que a sexta-feira 13 iria me atacar, e ela fez isto da forma mais cruel e traiçoeira: me fez perder completamente a noção do tempo e, quando dei por mim, já era noite! Pior, este dia macabro até mesmo fez meu celular ficar desligado! Muito azar, fiquei o dia inteiro incomunicável, sem nem me dar conta. O dono da lan ainda foi muito legal em me comprar um sanduíche e por na conta.

Quando ia finalmente embora, percebi que, no bar da esquina, estava um grupo de amigos meus. Pensei “melhor chegar um pouquinho mais atrasado, mas estar na companhia de conhecidos, em vez de voltar, solitário e assustado, para casa, em plena noite de sexta-feira 13”. Eles me ofereceram cerveja. Insistiram muito, até. Eu, é claro, sou absolutamente contra bebidas alcoólicas, mas, durante o dia inteiro eu havia comido apenas um sanduíche, e não tinha bebido nada. Não podia ficar assim. Do jeito em que estava com azar nesse dia, que só pode ter sido inventado pelo velho Murph, aquele da lei que faz tudo dar errado, se eu não bebesse pelo menos um ou dois copinhos, era capaz de morrer de desidratação. Já parou para pensar nisso?

Mas depois de tudo isso, vim direto para casa! Acho que, depois de passar por tantos apuros, eu até que merecia uma medalha de herói. E, bem... Talvez até um aumento de mesada, o que acha? Ei... Por que você está pegando este cinto? Pára com isso, pai, não viu que eu fui mais uma vítima da sexta-feira 13? Por favor, pai, não faz isso! Socorro!

Renato Arfelli
Enviado por Renato Arfelli em 18/03/2008
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