procura

A ilusão de ótica faz-me ver teu cabelo no alto da estante de livros. Tua blusa pelo vulto dos passantes, tua voz pelo aglomerado de sons por aí. E cega, saio sem ver de onde o som e tateio cada vulto para meus dedos farejarem a fibra de tua blusa, o perfume no teu cabelo, o veludo na tua voz.

E toda eu cubro-me de preces, mãos na expectativa de um vestígio da tua existência no meu meio, para te sentir um pouco meu e eu um pouco tua, ainda que apenas descobridora.

Mas tu me foges, líquido a escorrer pelos azulejos, fragrância no ar, pensamento perdido no meio do livro entre as estantes, mesas... Tu.

Luzes e cadeiras em fila. Pés, braços, olhos, vozes: um exército de possibilidades sem substância que me toque. Se ao menos a fibra de tua blusa vislumbrasse o enfim... se ao menos o veludo de tua voz soasse ao longe as trombetas de chegada... se ao menos teus fios acenassem recobrando a minha paz...