"A Grande Chance" =Baseada em Fatos Reais=

- Tudo bem. Os senhores venceram. Aliás, venceram pelo cansaço. Eu vou lhes mostrar a máquina, explicar o funcionamento dela detalhadamente, e até fazer uma demonstração exclusiva para os dois. Mas há uma condição sine qua non.

- Nós topamos. Topamos qualquer condição. Diga qual é já estará aceita. A gente não vê a hora de ver essa maravilha funcionando.

- A condição é essa: os senhores assinarão um documento no qual se comprometem a manter sigilo absoluto para sempre sobre o assunto.

- Sem dúvida alguma. O senhor redige o documento ou quer que o redijamos?

- Prefiro que o redijam. Afinal de contas os dois, pai e filho, são ótimos advogados pelo que fiquei sabendo.

- Advogados, sim. Ótimos deve ser intriga da oposição...

Documento redigido e assinado, os três embarcaram no carro do homem e durante mais de uma hora percorreram dezenas de ruas da gigantesca São Paulo.

- Longe, hein?

- Bota longe nisso, amigo. Faço questão de morar na periferia da periferia para ter sossego enquanto monto minhas invenções. E por falar em invenção, a que os senhores verão daqui a pouco é a minha obra-prima, o auge de minha carreira. Depois dela eu pude parar de trabalhar para terceiros e vivo apenas de rendas. Invisto toda semana no mercado imobiliário. Acreditam que compro um apartamento por semana há seis meses? E que a seis meses atrás eu só possuía um carro velho. E um carro velho prestes a ser tomado pelo banco. Hoje os senhores estão comigo neste belo “Mercedes” novinho em folha.

- Desculpe a insistência, mas afinal de contas, o senhor está nos levando só pra ver a máquina e ficar babando ou a venderá a nós?

- Desde que cumpridas certas exigências, estipulado um valor decente, talvez possa lhes vender uma réplica perfeita. É claro que eu jamais venderia minha máquina original.

A visita durou menos de uma hora. Durante cinqüenta minutos pai e filho examinaram a máquina detidamente, mexeram em tudo que puderam, fizeram-na funcionar diversas vezes e quase choravam de alegria ao ver o resultado final do invento. Era coisa de alucinar. O produto da máquina era da mais absoluta e indiscutível perfeição

Na volta para casa discutiram o preço com o inventor e chegaram à conclusão, pai e filho, que o melhor mesmo era vender a casa da família, o pequeno apartamento que a avó materna deixara de herança e o bom carro comprado no ano anterior. Valeria a pena. Em questão de poucos meses estariam comprando também um imóvel por semana. Sem dúvida alguma.

Um vizinho comprou-lhes a casa com um desconto de vinte por cento sobre a menor das avaliações, outra pessoa comprou-lhes o apartamento a preço de galinha morta, e o próprio inventor aceitou o carro novo como pequena parte de pagamento da coisa.

Quando a máquina foi entregue no endereço provisório que haviam fornecido, pai e filho tiveram que tomar uma dose maciça de “Maracujina” para conter a ansiedade.

No dia seguinte dirigiram-se, furiosos, pobres e furiosos, até a delegacia mais próxima a fim de prestar queixa contra um vigarista. Um vigarista safado, um ordinário que lhes vendera uma máquina fajuta de fabricar dinheiro em casa!! Cúmulo dos absurdos! Onde já se viu tal desplante!! Deixara-os de tanga e a coisa não funcionara de maneira alguma!!

O delegado ouviu dos dois em silêncio, apenas olhando fixamente para as caras deles, sem acreditar no que ouvia.

- Os senhores são mesmo advogados?

- Somos sim, senhor. Tanto eu quanto meu filho.

- Exercem a profissão?

- Quando aparece alguma causa boa...

- E agora resolveram tornar-se vigaristas.

- Como assim, doutor? Nós é que fomos lesados por um vigarista.

O delegado deu uma boa gargalhada.

- Contando ninguém acredita...Dois advogados prestando queixa contra um vigarista sem saber que são dois vigaristas reclamando contra um colega. Que tipos essas faculdades de fim de semana andam formando, meu Deus! Guarda, recolha os dois pilantras. Presos em flagrante por confissão espontânea de delito. Dá pra acreditar numa coisa dessas? Dois advogados adquirindo uma máquina de falsificar dinheiro e prestando queixa na delegacia porque ela não funciona...Contando ninguém acredita...

Durante muito, muito tempo mesmo, todas as vezes que se lembrava daquela dupla o delegado ria abertamente. Mesmo sozinho.

- Babaquice hereditária...

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 29/03/2008
Código do texto: T921845
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