O Banho - Lia de Sá Leitão (Normanda) - 01/01/2006

O dia misturava as cores esperando a noite, nuances escarlate misturavam-se aos vários tons de azul, tudo tão intenso que a vida pulsava no coração da mulher que dirigia em alta velocidade em busca de paz.

A paz dos amantes, a paz dos amores, a paz daqueles que buscam a parelha com a avidez do tempo.

Cada quilômetro parecia uma eternidade, os cabelos voavam ao sabor do vento chegando a machucar o rosto trigueiro pelas horas de estrada e sol.

Chega como um flash em seu apartamento estaciona o carro de qualquer jeito e sobe o edifício pelas escadarias de serviço, não tinha tempo a perder, jantar marcado para às 22h nada podia atrapalhar aquele desejo de mulher.

Abre a porta, joga as chaves, a bolsa, o casaco por cima do sofá, descalça os saltos altos e na direção do quarto vai despindo-se Como num bailado, ainda estéril do outro.

Pega o roupão e adentra no banheiro, nua, olha-se ao espelho e toca o corpo como se uma segunda mão acarinhasse seus seios no sistemático exame de mama ... pensou com ar de mulher faceira, ele tocará o corpo leve, abre a ducha e se molha por partes, as partes de mulher, os mamilos com água ainda fria deixa a pele arrepiada, deslizou mais um pouco alisou a barriga passou o indicador ao redor do umbigo e sentiu um leve vibrar da alma, a mão de espumas delicadamente perfumada pelo púbis e sentiu aflorar a libido feminina entre o devaneio e os minutos de espera. Molha-se por inteiro, enxarca os cabelos como quem afoga o segredo de adolescente a espera do primeiro beijo. Como pede mesmo depois de adulta permitir aquela mão imaginária da emoção dominar a razão.

A sensação é de harmonia é a mesma que satisfaz os desejos do toque sem sentimento de pecado original: abre mais uma vez o chuveiro, toma em mãos a esponja delicada, goteja o sabonete líquido e desliza sobre o corpo ainda mais suave, deixa a espuma abundante que favoreçam em doce perfume a alma cansada da espera.

As mãos tornam-se conchas, que banham o corpo da Afrodite que sorri para o Box esfumaçado, desenha um coração, escreve um nome, era o nome desejado, deixa a água quente escorrer pelo corpo fazendo um ritual de purificação levando consigo no trajeto sinuoso do corpo nu ao chão os cheiro de rua, a presença da ansiedade do dia pela hora marcada, a saudade do depois antecipadamente pela expectativa do que vai deixar de lembrar, não pode esquecer os delírios e desejos, toca com mais leveza, e sente a carne quente se abrindo em flor, Sai do chuveiro, senta-se na bacia abre as pernas fecha os olhos, deixa-se largada alguns minutos de mistério entre o que não deseja pensar e o ambiente já está tomado pela fumaça da água em ebulição, quer vivenciar o barulho do mundo que se faz presente naquele útero, e a expectativa da dúvida toma a alma como um tremor. Degusta o jantar, deseja o sofá, com olhos fechados seu parceiro está ali, ajoelhado a seus pés, beijando-lhe a barriga, os seios, e com mãos pressionam a carne branca trazendo-a para si.

O ensaio solitário do que será o encontro está por um fio entre o prazer irrestrito e o sonho de mulher amadurecida que busca no outro a réstia que ilumina a vida, o amor.

Nomanda