UM DIA QUASE FOMOS POEMA - Normanda - Lia Lúcia de Sá Leitão

A noite cai suave como o véu que envolveu teu corpo nu.

Vejo em flash o momento

Dirijo em velocidade, corro atrás de mim ,

De ti,

da tua paz...

Choro minha saudade pela estrada.

O brilho das fantasias da noite anterior

Estou só...

Sinto-me o próprio poema que não foi escrito.

A noite cai suave como o último beijo

A última dose...

Embreago-me nas volúpias do que vivemos

do que fomos...

dos corpos, dos cheiros fortes, presos aos laços da memória.

Memória!

Desenganos de mar calmo,

Monstros... Moréias... Sereias...

Teus olhos verdes...

Um oceano que jamais chegou em às tuas mãos

Memória!

As mortes do nascer de lua

Fadas vadias, duendes... bruxarias!

Não quero ver meus sonhos perdidos de desertos,

Não quero Ter meus braços tão ávidos de ternura,

Quero o amor!

Um louco e puro amor...

Que berre ao mundo!

Escancare as janelas, derrube as portas... pule os muros.

E num grito de paixão

Diga

me tens!

Quero um amor como quem consome as horas de um tempo infindo

Vulcano explodindo a dor de suas entranhas...

Como os que viajam nos delírios dos sonhos ácidos!

Desejo como quem suicida-se por ódio do amor.

O amor dos loucos!

Das rosas vermelhas que murcharam no jardim!

O mundo dos deuses jamais gregos!

OH! Safo, sonetos perfeitos da paixão...

meus heterônimos...

teus ais!

Tão Pessoa quanto ser fingidor da dor,

Pedra no caminho Raimundo das sem rimas José.

Sem tu nesses instante...

Sem geografias definidas pelo lençol

Sem penumbra ou a doçura do hálito

Sem a mão que segura

A crina vermelha do dragão chinês

Gueixa ... de ontem ,

Queixas ... de agora,

Sou assim sem estilo...

Sou assim ... sem destino,

Sou assim sem teu amor.

Um dia nós... quase fomos poema!

Tudo passa numa velocidade estonteante...

Tu, estrela cadente

Eu, carente de noite.

O luzir dos pirilampos encantam a solidão da estrada

Tu, folha tenra de Capim Santo

Eu, orvalho matinal

A felicidade dos noctívagos,

Tu, pássaro noturno,

Olhar fixo de quem ataca.

Eu, vitima,

Submisso olhar de quem é vencido.

Meu corpo pede cama,

O teu rua

Meu desejo pede pele,

O teu mais um cigarro

Meu sono pede um sonho

O teu, apenas uma foto 3X4

Minhas mãos procuram teu corpo

As tuas o celular.

Se meus fantasmas atormentam-se com a ausência

Os teus são internautas,

vagueiam pelas salas da internet.

Veja-me como flor do campo,

Virtual,

Mas na noite espessa

Tu me tens como a venenosa naja

Quiçá ninja ... negra

Mais negra que uma viúva a tecer suas teias.

E tu , a presa mais presa

Inocente fragilidade

Fantasias e delírios

De uma poética solitária

Que esperar

Das ridículas cartas de amor

Que escondi nos poemas?

Sem a canção de ninar, sem críticas ... compromissos

Sem a cumplicidade do olhar?

Sem o calafrio dos afagos mais exibidos.

O que esperar das horas sem tempo

Das noites enluaradas

Dos vampiros

Das aves

Que rasgam os céus

Sem cerimônias e invadem meu silêncio

Serenatas disformes, dispersas,

Destoa dos insones.

Noctívaga lembrança da beleza,

Susurros

Entre o segredo da posse e o prazer da ãnima

Mergulhos... mergulhos...mergulhos

Deixa-me passar a língua em tua pele branca

E sorver as gotículas do suor de ainda pouco

Vem ... toma a minha mão,

Sinta apenas o silêncio da minha ausência

Vem... ganha o meu sorriso

Que me faço canção em tua solidão.

Um dia quase fomos poema...

O desejo aflora meus sentidos

possuir de ti uma vida

Beber em ti o êxtase

Cada instante servir dos teus beijos a paixão de ser tua

Incendeia-me as carências

Climax...corpos nus...Climax

Ai! Que hora ingrata... abrir os olhos

E não estás presente

a escassez do afago

Mesmo assim busco-te

Sensações

Espasmos.

Vivo a madrugada como quem rasga as cortinas do futuro

Em deleites... delírios...brumas... segredos...

Pecados... silêncios.

Ai! O sol!

Estrela que brilha entre eu e a distância.

Saudades!

De mim envolvida nas tuas cobertas,

De ti ressonando em meus braços

Ah! Miserável razão!

Não posso ir ao teu encontro

Não posso te falar dos sonhos que guardei

que te possuem por inteiro

Não posso revele-me poesia

Não posso acordá-lo toda manhã

Posso apenas esperar... esperar... esperar.

Um dia quase fomos poema.

Papel...poema...Papel.

Escrito no fogo da paixão, li teu nome em tinta azul

Preservada de tempo

A foto...

Prende meus olhos marejados de poesia,

Uma pose para a posteridade

As florzinhas do campo

Que nem prestamos atenção.

O sorriso desatou opaco,

Solitário em meio a tanta luz,

Passei a limpo mais um texto

Sorri passado

Mas vi um amanhã

Pensei em ti

Sem mágoas... sem máscaras

Apenas

Solidão

Apenas

Saudades nos negativos revelados.

E a melancolia mela a vida..

O guardador de fantasmas estava confinado ao fundo do armário

Abarrotado de passado estufado de histórias

Boas e más.

O porta retratos

Tua foto agora em minha frente

Olhamo-nos um ao outro

E ai?

Que respostas temos a dar?

Pensamos tão alto... mas nunca atingimos as nuvens.

Sobraram as inegociáveis tormentas

Boatos... medos... agressões...

Eu aqui folheando o ontem

Perdida nas paisagens, na viagem

Nos amigos

E tu permaneces imparcial,

Como quem pára o relógio

E abre uma a uma as feridas da minha solidão.

Um dia quase fomos poema.

E todas as vezes que busco a fotografia

Intencionalmente procuro a nossa...

Que não sorrimos

Que os olhos não brilham,

Aquela

Que marcou o início do que sabíamos Ter

O amor

O amor dos mais virtuais

O Conde e Mortícia

Como conseguimos ser?

O teu semblante dizia tudo

O meu olhar de quem nada vê

E a paisagem ao fundo

Era a prova do vácuo

Criamos regras e não soubemos

Jogar.

Nos amamos.

Nos entendemos

E fomos bem... e tudo está resgistrado

Numa simples fotografia cor de jornal

Que agora o vento carregou

E ...

Um dia...

Quase fomos poema