A Puta e o Padre

O único homem que amou-a da forma mais pura que se pode amar alguém não era daqui. Não totalmente. Tinha um pé em marte. Era religioso, desses que frequentam missa. E era músico gospel, líder de uma banda. Confessava-se todas as semanas pelos pecados do pensamento, porque era virgem; confessou um dia. Desde então, ela não conseguiu mais o absolver, porque em sua religião da vida, era esse seu maior pecado. Os cuidados que ele tinha com ela inquietavam-a. Não. Irritavam mesmo. Seu prazer, quase sádico, era falar mal da igreja católica e suas absurdas ostentações. Ele escutava, passivo. Tinha uma enorme sabedoria e paciência com seus defeitos. Um dia, convocou sua banda e gravou uma música pra ela, uma música de amor.

Alguns anos passaram e ele insistia. Mas não a irritava mais. Ele ensinou-a muitas coisas também. Quando finalmente perdeu a virgindade, procurou-a como a um confessionário e admitiu ter transado com duas putas da Vila Mimosa, como se fosse um presente. Em seus olhos, ela decodificava a mensagem: Agora sou um devasso, estou pronto pra você. Mas ele era bom. Imaculado. Dava culpa; e isso, ela não conseguia transgredir.

Certo dia, com o olhar cansado e baixo, deu sua última palavra:

Vou ser padre.

E ela sentiu-se uma santa.