"No Confessionário" =Miniconto=
- Seu padre, quero confessar meus pecados.
- Diga, meu filho. Conte-me seus pecados.
- Sabe a esposa do Carlos Godinho, aquele grandalhão que vive viajando?
- Sei. O que tem ela?
- Faz tempo que tenho um caso com ela e isso tem me pesado muito na consciência.
- Faz muito tempo que esse caso, meu filho?
- Bastante tempo, seu padre. Bastante tempo. Acho até que o menino caçula deles é filho meu.
- O de quatro anos?
- É esse. O mais novinho.
- E vocês se encontram sempre?
- Sempre que ele viaja, seu padre. Ela diz que ele é artista e tem que andar pelo país todo. Aí a gente aproveita pra se encontrar.
- E que arte ele pratica, você sabe?
- Sei não, seu padre. Acho que é cantor ou coisa assim. Parece que mexe com música.
- Não, meu filho. Ele é imitador. E dos bons. Neste exato momento ele está imitando a voz do padre e conversando contigo antes de lhe meter umas balas na cara. Fora da igreja, é claro. Foi bom ter encontrado o confessionário vazio e ver você entrando, meu filho. Vá em paz e que Deus o abençoe antes de morrer lá fora.
O pecador levantou-se de um pulo, voou igreja afora e sumiu da cidade. O padre pôde, finalmente, aproveitar a mulher do Carlos Godinho em paz, sem aquele rival.