A LÍNGUA

Por volta do ano 2.000 AC, o Imperador Gaudinus I e único, virou-se para sua Imperatriz, Surama, a bela e disse: - Vou dar uma festa esta noite em nosso palácio principal. Mandou chamar seu escravo preferido, ordenando-lhe que fosse ao mercado público e comprasse a melhor iguaria.

Mais tarde, voltou o escravo com uma linda bandeja, coberta por um tecido fino. O Imperador removeu o pano e disse espantado. Língua! Mas esta é a melhor iguaria?

O escravo sem levantar a cabeça respondeu: - A língua é o prato mais delicioso, Alteza.

É com ela que se pede água, se diz querida mãezinha, se faz amizades, se dá ordens, se distribui bens e se perdoa. Com a língua vossa Alteza conquista amigos, conta histórias, diz meu Deus, relata as memórias do passado faz negócios, recita poesias e diz “Eu te amo”. O Imperador Gaudinus não muito convencido, quis testar a sabedoria do seu escravo e o enviou novamente ao mercado, ordenando-lhe que comprasse a pior iguaria. Horas depois, voltou o escravo com outra linda bandeja, coberta por um fino tecido, o qual foi retirado pelo Imperador, ansioso para conhecer agora, a pior das iguarias. Língua outra vez! Diz o Imperador.

- Sim, diz o escravo, agora mais altivo. É com ela que se condena, se separa, provoca-se intrigas e ciúmes. É com a língua que se blasfema e se manda para o inferno. Com ela se expulsa, isola, engana o irmão, responde mal para a mãe e se ofende o pai. Com a língua se declara a guerra, se pronuncia a sentença de morte e com ela se diz “eu te odeio”.

Não há nada pior do que a língua, não há melhor do que ela. Depende do uso que se faz dela.

Aureo Marins
Enviado por Aureo Marins em 24/04/2008
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