LIVRE-ARBÍTRIO

Havia trinta anos que Márcio, Marcinho, como era conhecido, não ia à sua cidade natal. Estava eufórico na direção de seu carro. A noite chegava. Acendeu os faróis. A placa à beira da rodovia indicava poucos quilômetros de seu destino. Tinha que entrar numa estrada vicinal de terra. Começava a chover forte! O limpador de pára-brisa foi acionado.

Mentalmente imaginava como haveria de estar sua cidade natal, amigos de infância e juventude. Um grande encontro e uma surpresa! Esporadicamente tinha notícias deles. Nunca havia esquecido de sua terra natal. Em sonhos, sempre se via andando pelas ruas de sua cidade, e um de seus sonhos algo não saída da mente; uma jovem o olhava carinhosamente andando pela rua, parecia um anjo tal a pureza daquele olhar... Quem seria ela? Nunca a havia visto em seu mundo real quando estava acordado. Parecia que vivia em dois mundos; quando acordado e quando dormia. Sempre se lembrava de seus “sonhos” quanto acordava. E era uma realidade impressionante.

Tinha uma predileção pelo transcendental. Depois que havia saído de um seminário na juventude tornou-se um inveterado leitor de todas as tendências religiosas em busca de sua verdade. Havia nas entrelinhas de todas as religiões os mesmos ensinamentos, doutrinas e normas desde os primórdios da humanidade. Uma cópia modificada ao sabor dos tempos e dos vencedores das guerras que se tornavam verdades, como também divisões dentro das organizações religiosas criando assim subdivisões e novas ordens. Sempre se perguntava onde estaria Deus com tantas organizações religiosas pregando suas verdades...

Enveredara leigamente pelo sobrenatural, esoterismo, parapsicologia descobrindo muito embuste. Lia tudo de científico sobre a mente humana. Várias explicações... Uma delas é que tudo que pensamos se realiza primeiro em nossa mente e que acreditar ou não depende exclusivamente da própria pessoa.

Em suas leigas pesquisas e em seus sonhos percebia que nada haveria de mudar. Seria um contra-senso! Por vezes, acordava cansado após seus sonhos, pois ia a lugares que jamais imaginava existir ou mesmo os que sabia existir como alguns países. E sempre era a mesma coisa: ajudar, trabalhar e ver pessoas como as via no seu dia a dia; pessoas vivas ou mortas, viagens em naves espaciais em altíssima velocidade pelo espaço com passageiros que jamais os havia visto. E uma coisa o impressionava em suas viagens quando dormia, jamais havia visto ou ouvido qualquer referência em seus sonhos de céu ou inferno! Isso sempre o intrigava! O que haveria dentro de si — espírito, alma — que era somente dormir e sumia pelos mundos fora do corpo físico que muitos chamavam apenas de sonhos!

Sua mente viajava ao sabor de suas interrogações. Porque ter esses sonhos? Porque ia e voltava de mundos que jamais imaginava e via pessoas que jamais conheciam? Tentava entender que em cada mundo se precisava de uma maneira para nele viver: na lua, uma roupa adequada, no mar, submarino e roupas adequadas, na terra, um corpo físico e no mundo espiritual como se afirmava não se precisava do corpo físico, claro! O corpo físico seria um “táxi”, alugado para levar o espírito até determinado ponto e depois teria que ser dispensado! E então, o espírito viajava tão rapidamente para qualquer parte que desejasse... Liberdade! Livre-arbítrio! Imaginava também que como no planeta terra um ser que não estivesse em sintonia com as normas vigentes era tachado de louco, tratado, isolado ou preso. Em outros mundos também deveria ser do mesmo modo. Talvez, Deus, seria um estado de espírito de quando se perde todas as imperfeições da mente, quando não mais coisas banais importunariam a mente de uma pessoa e ela chegaria a um momento de sublime pureza espiritual. Em outros mundos — pensava — cada um procuraria aqueles que mais afinidade tivesse como no planeta terra. Imaginava o que haveria nas aproximadamente 230 bilhões de estrelas da Via Láctea, onde a Sistema Solar está contido e o planeta Terra dentro do Sistema Solar numa ponta da imensa Via Láctea. Intimamente não tinha medo da morte. Sabia piamente que ela seria apenas uma porta rumo a outros mundos. Nada mais. O contrário de um nascimento, ou, quem sabe, um novo nascimento, não muito comemorado por não se saber o que viria depois. Grandes mistérios e muitas explicações...

Sua mente estava em total estado de abstração quando percebeu uma curva. Derrapou na lama rumo ao precipício!

Não soube quanto tempo ficou imóvel dentro do carro. Com certa dificuldade conseguiu sair do carro. Caminhou pela noite sem rumo até chegar a uma trilha. Ao longe percebeu luzes. Deveria ser sua cidade. Vez por outra caía. Sua cabeça estava zonza, talvez, pela pancada do acidente. Chegou à rodovia de terra. Seguiu por ela. Não conseguiu caminhar muito. Cambaleou. Foi ao chão! Ouviu sussurros. Alguém o tocava. Tentou entender o que acontecia. A escuridão e a completa confusão mental não deixavam que visualizasse nem entendesse o que estava acontecendo. Somente que pessoas o socorriam. Parecia que estava entre o sono e a vigília. Estava exausto!

Alguém tocou sua testa. Ouviu murmúrios. Não tinha força alguma. Era levado para algum lugar... Sem se dar conta do tempo que ali permaneceu deitado abriu os olhos lentamente. Um fraco lampião iluminava o cômodo simples, talvez uma velha casa de uma fazenda, coisa assim...

— Onde estou? — perguntou ao idoso, moreno claro e afável que se aproximou da cama.

— Está seguro e melhorando a cada minuto! Não se preocupe. Tenha calma que tudo irá dar certo — disse o senhor moreno com uma voz rouca e suave.

— Quem é o senhor?

— Apenas um responsável pelo elo da vida. Nada mais!

— Como assim...

— Ainda é cedo para fazer algum esforço mesmo mental. Melhore um pouco... Depois conversaremos — ao tentar sentar-se na cama foi gentilmente sugerido para que ficasse quieto.

— Eu...

— Duma mais um pouco — disse o anfitrião colocando a mão na testa de seu hóspede. Seu hóspede aquietou-se como se recebesse uma anestesia geral.

— Como ele está? — perguntou uma senhora do grupo de pessoa do lado de fora da velha casa.

— Estou impressionado! Ele pareceu-me muito calmo. Não notei nele sinais de medo, orgulho, mesquinhez, altivez, nenhum sinal de maldade. Pareceu-me uma pessoa que sempre buscou se aprimorar e desvendar os mistérios da vida. Há muitas dúvidas na mente dele, mas dúvidas que sempre buscam uma explicação, um caminho. Ele sofre muito. É muito sensível. Só não sabe às vezes exteriorizar sua bondade como muitos. Mas é uma pessoa muito boa.

— Eu também percebi isso — respondeu a mulher.

— Vocês poderiam dizer-me onde estou? — perguntou Márcio, não entendendo a razão daquela reunião do lado de fora da casa. Havia ouvido tudo.

— Deseja mesmo seguir viagem? — perguntou o velho.

— Claro! Acho que estou bem... A cidade fica perto daqui, não! Agradeço a hospitalidade, mas preciso ir. Dá para chegar lá a pé, não!

— Sim. Vou levá-lo até lá — disse o velho olhando de soslaio para seus amigos.

— Estou pronto!

— Vamos. Eu o acompanharei — seguiram por uma trilha até a estrada de terra.

— Parece que pouca coisa mudou por aqui. Essa estrada não mudou nada.

— De onde vem?

— Da capital. Sou de Pedras Altas. Sai daqui jovem ainda. Que silêncio!

— Na capital não é assim, não é mesmo!

— Nunca foi até lá?

— Somente em sonhos — murmurou o velho. — Mas não vivi pessoalmente por lá.

— O que faz por aqui?

— Sou o responsável por esta região. Ajudo pessoas.

— Como assim!

— Ora, cada um tem suas habilidades. Eu prefiro ajudar pessoas.

— Não gosta de viajar?

— Já viajei muito. Mas prefiro viver por aqui entre amigos a ajudar quem precisa.

— Se tiver alguma coisa para fazer eu sigo sozinho.

— Não seria de bom alvitre você andar por aí sozinho...

— Qual o problema?

— Tem parentes na cidade?

— Sim. Uma prima. Ela é casada e tem duas filhas.

— Entendo...

— Nossa! As ruas estão do mesmo jeito de quase trinta anos atrás! Quanta gente pelas ruas...

— Não se assuste com o que eu vou lhe dizer, boa parte dessas pessoas está sonhando e outras...

— Como assim?

— Quando o corpo descansa o espírito aprende.

— Poderia ser mais claro.

— Você sonha muito, não! Já o vi em seus sonhos...

— Viu!

— Sim. Você viaja muito quando sonha.

— Realmente. Eu vou a lugares que jamais imaginava ir.

— Entendo... E sempre ajudando pessoas e às vezes contatando pessoas que lhe fizeram algum mau.

— Verdade! Como sabe disso?

— Bem, meu jovem, eu sei que você busca uma verdade, uma verdade absoluta! Algo que preencha o seu sentido da vida, não é mesmo! Porque existir? Porque nascer? Porque viver? Porque o mundo é assim? Porque todos pregam o amor e as coisas nunca melhoram? Porque tanta pobreza, sofrimento e solidão na alma das pessoas? Não deveria ser assim... Certo!

— Certo! O senhor sabe por quê!

— A vida é um acaso itinerante. A cada segundo tudo muda tão sutilmente e somente depois de séculos ou milênios se percebe as mudanças. Em cada tempo se vive uma verdade baseada nos aprendizados dos antepassados modificados e aprimorados e tornados verdades ou conceitos válidos. Todos sabem apenas o meio. Ninguém sabe o inicio nem o fim! A raça humana, depois de milhares de milênios, por um acaso do tempo e por circunstancias ambientais desenvolveu a fala, dos grunhidos passou-se a fala, aprimorou-se a pontaria para atirar uma pedra em seu predador, de caçado a caçador... Adaptações. É o único animal que faz sexo por prazer, tara, diversão, status, nunca para perpetuar a espécie. E a única espécie que sofre com a dor. Um animal sabe que sua perna está doendo, sente dores, mas não sofre com a dor. Não sabe que aquela dor pode matá-lo. Não têm um médico, come certas ervas para se curar instintivamente. Os humanos conhecem muitas ervas, mas observaram os animais, as usam e sofrem com a dor, com a feiúra, defeitos físicos, falta de dinheiro, pobreza, etc. Somos sempre preparados para vencer, nunca para perder. E a vida é um eterno perder no bom sentido, claro. Desde que nascemos começamos a morrer lentamente até a velhice. Os animais vivem e o homem sonha viver depois do desenvolvimento do espírito. O homem é um dos mais fracos animais da terra e se acha o maior, o melhor deles. Mas não entende nem a si próprio nem consegue se comunicar com os animais que também têm sua linguagem. Pelo cheiro os animais sabem que uma pessoa é amiga ou não. Se um cão cheirar uma pessoa pode se passar vários anos sem vê-la, quando a reencontrar e cheirá-la saberá identificá-la, como também percebe se uma pessoa tem medo dele, se ela é boa, amiga ou se há alguma ameaça com sua presença. Os animais andam com o focinho mais perto do chão onde o cheiro de qualquer coisa é mais evidente, por isso é mais aguçado seu olfato. O homem depois que passou a andar com dois pés afastou seu nariz do chão. Perdeu boa parte dessa capacidade.

— Desculpe-me... o que quis dizer sobre o nascimento do espírito! Não é como todos dizem!

— Meu amigo, não se coloca um morador num determinado lugar e se faz a casa por cima dele. Primeiro, prepara-se o terreno para se fazer a casa... faz-se os alicerces... e prepara toda a casa para receber o morador, entendeu!

— Perdoa-me... Mas antigamente o homem não tinha casa! Segundo acabou de dizer o animal homem vivia pelas matas e sem casa...

— Disse certo! O animal homem! Então, depois, como eu já lhe disse, a vida é um acaso itinerante... não há começo nem fim! Não há como criar uma coisa da magnitude do cosmo com bilhões e bilhões de sistemas planetários, bilhões de galáxias que mudam e explodem a todo o momento e se move constantemente e criar milhares de espíritos primeiro para depois criar o homem e colocar nele um desses espíritos... Seria como colocar um professor universitário no primário para ele chegar na universidade novamente. A troco de quê! Se na universidade ele seria mais útil...

Tudo é energia! E quando dominada e canalizada corretamente se constrói o que desejar tanto para o bem ou para o mau. Exemplo, a energia elétrica e a energia atômica. Ambas produzem luz, movem máquinas, como também fazem bombas e máquinas destruidoras. A luta para que esta energia seja canalizada somente para o bem é eterna e árdua!

— E onde Deus entra nessa história?

— Bem, quando o terreno estava propício para o desenvolvimento do homem, ele saiu do seu estado animalesco e desenvolveu dotes e atributos e desenvolveu o psiquismo, capaz de entender melhor as coisas... e aí estava pronto o cenário para a mais nobre e sublime de todas as criações, o espírito! A energia mais perfeita capaz de modificar tudo a sua volta. O lado “sagrado” do ser humano. E a este espírito mais evoluído chamam de Deus. Deus é um conceito. Um conceito do bem, do amor, da energia cósmica mais sublime que quando é buscada produz milagres, produz coisas que uma pessoa menos energizada não compreende. Todos podem recebê-la e canalizá-la, mas poucos tentam entrar em sintonia com ela. Os que assim o faz com boas intenções são chamados de curadores, curandeiros, paranormais, etc., e também depende de quem a recebe. Se a pessoa não acredita ou não deseja recebê-la, tudo em vão! Já ouviu dizer que o coração é uma porta com maçaneta somente do lado de dentro?

— Sim... eu meus estudos já li isso.

— Pois é... algum iluminado disse isso.Não se vai a Deus, chega-se a Deus. Deus é um estado de plena perfeição espiritual!

— Hei! Algumas pessoas estão desaparecendo! — exclamou Marcinho.

— Eu disse que quando o copo descansa o espírito aprende!

— Então, por que outros não desaparecem!

— Por favor, não fique nervoso pelo que vou lhe dizer...

— As pessoas que eu conhecia parecem que não envelheceram! Uns já até morreram e parecem estar do mesmo jeito!

— Calma, meu jovem! Muita calma! Aconteceu um acidente contigo... você está fora do seu corpo físico, entendeu!

— Eu... eu... morri! É isso! Eu morri! — gritou sem entender o que estava realmente acontecendo.

— Ainda não! Seu corpo está num hospital e os médicos estão fazendo o possível para salvá-lo. Você está em coma! Está viajando ao sabor do seu espírito, somente isso!

— O senhor e aquelas pessoas que me ajudaram estão mortos! É isso!

— Sim — disse o velho. — Estamos mortos como na terra chamam os espíritos desencarnados! Somos espíritos. E as pessoas que desapareceram estavam sonhando como você sempre faz e os que você está vendo estão mortos. Bem vindo ao mundo que você sempre sonhou! Bem-vindo ao mundo dos espíritos!

Marcinho sentou-se num banco da praça. Cobriu o rosto com as mãos e curvou-se sobre os joelhos. Estava pasmo... Percebeu que havia um murmúrio ao seu redor como se grupos de pessoas se aproximassem dele. Ficou como estava.

— Ele vai voltar? — perguntou alguém.

— Ainda é cedo para responder isso — disse o velho.

— Se ele não quiser voltar, peça a ele para me dar a vaga — disse a mesma voz. — Estou com saudades da terra e de minha família.

— Não seja precipitado. Você já aprontou muito por lá...

— Tenho o livre-arbítrio de ficar onde desejar, não almejo ser um responsável nem um guia... não tenho energia pura para isso. Prefiro a terra... Lá se pode fazer e comer o que desejar... ainda tenho lembranças de tudo. Quero rever meus parentes, ajudá-los no que for preciso. Mesmo não sendo um puro já entendo o bastante das coisas.

— Você nunca se esforçou para progredir espiritualmente, prefere viver estagnado. A luta para que um espírito progrida é eterna. Precisamos, caso ele resolva não voltar, de tentar enviar um espírito que leve alento para todos e que ajude de verdade as pessoas por lá. Você não é o mais indicado. O corpo dele ainda está em perigo — retrucou o velho.

— Mesmo assim, estou na fila... Eu prefiro a terra.

— Deixe-o em paz! Vão cuidar de suas obrigações — ordenou o velho. Alguns saíram lentamente.

— O que está acontecendo? Alguém pode voltar no meu lugar! — questionou Marcinho olhando um grupo se afastar.

— Muito desejam voltar. Alguns, refazer suas vidas e de outros que acham que devem favores. Outros, continuar como eram antes... Alguns espíritos também gostam de viverem estagnados. Lutar pela vida é difícil, ficar quieto e reclamando é mais cômodo. Seria como pessoas que não gostam de estudar ou por algum motivo não puderam e não tiveram incentivos, vivem somente pelas experiências passadas por outros, não conseguem um bom emprego, e depois acham que a vida é que não lhes deu chance alguma... Em quaisquer mundos que preferir viver sempre há maneiras de se aprimorar, se desejar, claro... a vida é um eterno evoluir... Alguns preferem ficar somente no primário, outros aprendem apenas a falar e nem escrever sabem e dependem dos outros para quase tudo. Mas, todos são livres para fazer de suas vidas o que desejar, somente não é muito justo reclamar da vida e culpar alguém ou o mundo em que vive por isso. Todos nós temos alguma habilidade e servimos para fazer alguma coisa em qualquer lugar que estivermos. Claro, não é um diploma que faz uma pessoa boa, eu comentei sobre estudar para dar um exemplo... mas o que queria dizer é que muito rezam, rezam e não aprimoram o espírito, pois decorar textos e recitar para os outros é muito fácil, praticá-los é que é difícil. Se você não ensinar boas maneiras para uma criança ela crescerá achando que tudo que faz está certo. Faz o que sabe, entendeu!

— Entendi! Mas alguém pode voltar no meu lugar!

— A terra é o lugar mais bonito do universo, meu caro amigo... Já se perguntou por que um espírito se encarna num corpo físico sendo o espírito o lado mais sublime do ser humano. Por aqui, e em muitos outros lugares, tentamos evitar deixar voltar alguns espíritos cruéis ou menos preparados, mesmo assim, eles burlam a vigilância, encarnam ou encostam-se a alguém por lá perturbando suas vidas ou com saudades de familiares, etc... Tentamos deixar voltar espíritos evoluídos para que possa fazer da terra o Paraíso como antigamente, quando a maldade não havia entrado na mente do homem... Na terra a vida é salutar, pode se viver num corpo, ter prazeres e também sonhar deixando o espírito viajar por aí... Aqui não temos um corpo, o prazer da carne não existe! Problemas, guerras, há por todos os lados... sempre há uma turminha desejosa de viver sem respeitar outros... esse é o grande problema da vida e em quaisquer mundos que você viver. Quando um espírito se ilumina vive bem em qualquer lugar tentando resolver problemas e ajudar todo mundo a fazer com que a energia geradora da vida seja sempre cristalina e pura...

— Alguém pode voltar no meu lugar ou não!

— Já imaginou poder ser duas coisas ao mesmo tempo... ser um ser espiritual e ter um corpo que lhe dá prazer, que é palpável, que pode ter desejos, comer o que bem desejar, dois em um! E, além disso, viver num mundo que você conhece bem, dirigir seu corpo ao seu bel prazer... uma máquina perfeita! O que vê aqui? Apenas uma imagem, um reflexo do que você foi e imaginou ser. Somente isso! A energia de seus pensamentos... Nosso cérebro é muito complexo para ter um controle central nele...! A energia concentrada num cérebro humano daria para ilumar uma grande cidade, controlá-la para o bem é o eterno problema dos humanos. Você é apenas imagens gravadas ao longo de sua vida, de tudo que você pensou, viu, ouviu, imaginou, fez, leu ou lhe contaram... somente um filme registrado de sua vida. Se você olhar muito tempo para qualquer coisa e não piscar os olhos tudo desaparece... voce não vê nada. Aqui, claro, você pode viajar por onde desejar em milésimos de segundos e atravessar mundos, desde que sua energia seja compatível com os mundos que desejar viver ou ir. Na Terra um aluno do primário não entra na faculdade sem passar por um longo aprendizado. No campo espiritual é a mesma coisa. Alguns espíritos podem aparecer para pessoas na Terra, pessoas que possuem uma energia boa, como também alguns maus espíritos podem fazer o mesmo e encostar ou se infiltrar na mente de uma pessoa, o que chamam de possessão. Geralmente, quando uma pessoa volta de um coma, ela conta coisas inacreditáveis para os outros. Volta outra pessoa, pois, ou aprendeu ou viu coisas boas, e modifica seu “modus vivendi”.

Nossa luta para que esta energia seja sempre canalizada para o bem é árdua. Todos tem o livre-arbítrio. Uma professora pode gostar de sempre dar aulas para alunos do primário, tem prazer no que faz, gosta do que faz. Outros almejam aprender mais. Eu, por exemplo, já tenho por aqui todos os meus parentes, prefiro ficar por aqui ajudando amigos. Cada um no elo da vida fazendo o que gosta. Se você desejar ficar por aqui e deixar seu corpo ser enterrado, tudo bem! Se permitir que alguém deseje voltar nele, tudo bem, também! Mas terá que ser uma energia boa como você. Senão, será considerado um louco, caso seu corpo volte à vida, se uma energia não compatível entrar nele. Você ainda tem que aprender muito lá na terra... Mas se desejar ficar...

— Se os médicos conseguirem salvar meu corpo...

— Depende de você. Sem sua energia nele fica difícil. Podemos ajudá-lo, caso deseje voltar. Sei que não tem medo da morte, como dizem por lá, mas muitas pessoas ainda precisam de você. E sofrerão muito sua falta. Você pode ser um valioso canal para nos por lá. Colocaremos você em contado com energias boas, pessoas boas... e a moça que você vê em seus sonhos andando pelas ruas será sua esposa. Você sempre buscou uma energia boa para ser seu par. Você dois estão designados para viver uma vida plena de felicidade, por isso, a vê sempre em seus sonhos.

— Como irei encontrá-la na Terra?

— Ela tem a mesma sintonia sua e os mesmos atributos seus, amor, carinho, fraternidade, está no hospital tentando salvar sua vida. E depois, vocês irão se apaixonar. Ela está desesperada para salvar você, mesmo sem saber o que vai acontecer depois. Você, como já está habituado a viajar... se lembrará de algumas coisas...

— Ela é muito linda...

— Então, volte! E seja feliz com sua metade da laranja — e sorriu levemente. — ajudaremos a ela e aos médicos a salvar seu corpo.

— Tudo bem...

— Não se preocupe nos encontraremos em seus sonhos e por aqui daqui longos anos...

— Obrigado.

— Boa viagem...

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