CIÚME ! TER OU NÃO SER - Normanda - Lia de sá leitão - 9/01/2006

Parece uma eternidade ficar alguns dias sem escrever, fazer o quê? Outro dia escrevi uma crônica sem malícia, e foi um Deus nos acuda! Resolvi largar mão de tudo; mas, os dedinhos coçaram, e sempre traio as minhas promessas de abandonar a Literatura. Cá estou com um turbilhão de idéias atropelando a escrita, atropelando a emoção. Pelo menos prometi que teria mais cuidado nas expressões nas criações e policiaria o pensamento que flui. Assim não despertaria as crises que diluem as verdades de um relacionamento que ainda não está por um fio. Só existe um conflito que desnorteia o casal, ter nas mãos o processo de escolha entre escrever e o companheiro, arrepia a alma!

Do lado direito cravado no peito indissolúvel emoção do livre arbítrio da criação; do mesmo lado, da metade para a pontinha do coração, tem-se o ser; aquele que divide as emoções, o dia a dia, esquenta a costelinha nas noites de chuva, compra o Cabernet chileno e ainda enfeita o solitário com uma rosa vermelha, presenteia com aquele anel, (ai ai ai lá vem o material se sobrepondo ao emocional) mas é verdade! Quem não gosta de ser acarinhado, beijado, amado, agraciado, acariciado?

Escolher entre a literatura e o companheiro, muitos amigos disseram, isso é drama: não é tão difícil assim, e contaram fatos de quantas vezes largaram a sua outra parte e quantas vezes foram largados na rua da amargura.

Outros disseram, é complicado, não saberia viver abdicando do processo da criação, melhor acabar logo com todo esse dilema e ficar com as Letras.

Alguém finalmente falou, elabore, é muito complicado, vencer o ciúme do outro em detrimento do prazer da escrita, mas concilie! Afinal, o homem é maleável depois que pensa que exerce poder sobre o bjeto de desejo (a mulher amada). OBJETO DE DESEJO A MULHER AMADA!

Espantoso alguém abertamente externar essa realidade. O relacionamento começa a tomar alfinetadas de ironias, sarcasmos, e o que podia ser controlado numa boa conversa passa a correr riscos de separação, uma história bonita de paixão, respeito pelo fio da navalha, tudo por causa de um bum bum que corria sem identidade pelo calçadão da praia. Negar impossível, era um presente dos deuses!

Mas em contra partida, martelava o jocoso deboche, OBJETO DE DESEJO = mulher amada, de BONEQUINHA DE LUXO a INFLAVEL NUMA FRAÇÃO DE SEGUNDOS. Senti na pele o sentimento de raiva, da posse e uso. Alguém tinha que dar um basta aos siricoticos, estremeliques, pitis, os meus sentimentos de ser objeto de prazer e o homem estressado.

Percebi que o homem enciumado é pior que a mulher enraivecida, mil vezes!

As mulheres ainda tentam sublimar com boa vontade, serenidade, pensa e tira proveito do emocional, chega a um denominador comum, mas as decisões são centradas, acertadas em sua maioria.

O homem pelo magnetismo da pretensão, pela facilidade do apoio social quer radicalizar e por um ponto final no problema, radicaliza e depois entra pelo cano!( principalmente quando é uma mulher como eu, bonita, inteligente, atraente, na flor dos quarenta, independente, sem modéstia, pensando como qualquer mulher que sabe se valirizar como ser pensante; quem me perder é por que não tem o menor tato com a fragilidade feminina)... voltando ao sofrimento masculino... depois que perde uma grande mulher, Sofre contido, se passando por machão, é até capaz de ir ao cardio pela taquicardia e falta de ar, somatiza angústia com enfarte, mas, está ali, onipotente pisando si, sacaneando o próprio sentimento para não admitir que furou gol contra. Que bobice!

Depois de ponderar, convidei o companheiro para sair da cidade, do circuito vicioso, fomos a uma das mais belas praias do Litoral pernambucano, Almirante Tamandaré, até mais bela que Porto de Galinhas ou Maracaípe (point turistico); Precisavamos de paz, ar puro, um mar verde esmeralda morninho sem nenhum deus grego para causar saliencias nem desviar o olhar de tranquilidade para acertar os ponteiros do relógio que insistiam em andar na contra mão do tempo.

O que falar, não escrevo mais no site, seria uma mentira, escrevo só aquilo que vai agradá-lo outra inverdade. Dilema da escolha, entre o que escrever e aquele que dali por diante bisbilhotaria os arquivos do meu micro. Não guardar cópias, e o site a dizer eis-me aqui, letra pulsante, viva, ardente, bela, a criação mais explícita da alma assexuada. Respirei, e vi aquele olhar de espanto que só os que conhecem o brilho dos pisca pisca de árvore de Natal nos olhos do silêncio sabem decifrar.

Pediu que eu fosse rápida, achei até engraçado, por que me insinuou, degole-me mas que não doa, dá-me o golpe fatal, mas que eu ainda sobreviva.

Olhei o céu de um azul profundo, os coqueiros, ouvi o barulho do mundo, os bordados das espumas do mar, não podia deixar de ser coerente, adorável instante para mostrar o quanto estou apaixonada como toda e qualquer mulher que absorve para si o sofrimento do companheiro e com um afago no rosto, um chega aqui, aquele vem cá que termina num beijo gostoso, num abraço onde os braços se entrelaçam tornando corpos em momento de eternidade, não pedi desculpas, não afirmei nem neguei absolutamente nada! Ele apenas disse, continue escrvendo do jeito que quiser, como quiser, eu entendo cada ponto e cada vírgula. Assustei!

O discurso que tinha improvisado caira por terra. Meu companheiro foi sábio, experimentou a alma feminina no momento em que percebeu a inspiração da palavra errante... a emoção do saber ter em si o ser amado.

Nomanda

Publicado no Recanto das Letras em 09/01/2006