Era uma vez letras vermelhas....

Era uma vez letras vermelhas, palavras diretas retiradas do peito que, sem saber ao certo se alcançariam seu destino, couberam dentro de um envelope apertado e durante muitos dias foram tratadas como tantas outras, com a burocracia e a formalidade costumeira, certas de que depois de longa jornada seriam recebidas e reconhecidas de uma forma diferenciada, mesmo sem tanta certeza de sua chegada.

Acontece que a receptora de palavras vermelhas, embora estivesse ávida por recebê-las, por serem únicas e raras, amedrontou-se diante de tamanha nudez vermelha ensanguentada e tentou livrar-se delas, porque se sentiu responsável, porque não entendeu que independentemente dela, as palavras já eram daquela cor. Utilizou então um artifício muito eficaz que consistia simplesmente em anular suas próprias palavras vermelhas, tentando provar sua inexistência.

A receptora foi muito bem sucedida nessa história: suas palavras vermelhas ficaram desacreditadas e as palavras vermelhas recebidas foram perdendo sua coloração.