Franz Listz, o inocente amor - Normanda - Lia de Sá Leitão - 14/01/2006

É difícil encontrar uma palavra tão cruel quanto a melancólia. Representa nas suas mais profundas elocubrações a efemeridade da vida, é a palavra insatisfeita com o tempo que voa, Carpe Dien, sem poder retê-lo na caixa de Pandora espalha-se pelo ar, ganha a atmosfera e no momento expresso limar nos ponteiros temporais desdenha da Literatura e ali está em todas as composições a angústia melancolica contida nos nos estilos de época. O mesmo Carpe dien errante do cavaleiro dos sonhos eternos, o Quixote que se esfola no silêncio de sua Aldonça del Toboso; É a submissão de Sancho áquela loucura delineada do prazer pela ordem inversa do absurdo amor que insiste em não crer em não ser comum, em não ter o maravilhoso apenas por que é singular, em não se permitir o plural por que ali está o sonho gaslopante da escrita que descortina em azul a tint do poeta que delira, em não se deixar levar pela vida que arrasta, arrebata a alma, e como um furacão aranca os sonhos, desejos, taras, fetiches e silencia no olhar daquele que se afronta ao moinho de vento e seu colorido de circo mambembe, miserável razão e emoção! Olha o mar esmerada, uma gente que anda, que se banha que sorri momentâneamente, mas não vê que a nuvem esconde o sol e as rendeiras do mar permanecem ali incansável em seu trabalho e as sereias espreitam sua presa mais fácil, o modelo do homem para descartá-lo da vida e tomá-lo em suas conchar de amor.

Soberbo! Sereias que nunca se masturbam por que o mar é enorme!

Entre a fragilidade e o encantamento, o segredo da mulher que jamais externa seus despudorados sentimentos, aqueles que se pensa e nunca são ditos sem os recatos que domina e isso impõe a passiva e insólita melancoilia.

As sereias buscam em seu canto aquele que ri, só, busca-o afoita, e faz tudo que se deve fazer em um homem de diferente quando a vida cai na desarmonia do efêmero, o descontrole desmorona no inusitado beijo molhado, no corpo entregue aos fluidos degustados com sabor de sal.

Aquele dedo que acaricia os lábios e adentra pela boca dando a sensação fálica da oralidade do sexo que seja invertido pela mordida suave nos dedos dos pés, no carinho por entre as pernas do amado corpo que se entrega ao canto da sereia que seja aberto em brumas e pela suavidade do verde esmeralda, na lambida contrária ao peito, e nas costas roçar o corpo escultural deixando-o sentir escorregar o mais doce fluxo da mulher que faz a diferença, na mão comumente nervosas a tocar a genitália dele que machuca, agride, e ele apenas geme num falso prazer, que seja um suave apalpar que busca para si o encaixe, a junção de carícias no corpo do amado a confecção do texto a elaboraboração da coreografia entre o bailado de enorme peixe e a nudez do homem que não resiste em se deixar ficar.

O corpo cai no abismo das águas e a palavra melancolia perde o sentido humanamente apavorante de domínio abusivo da alma e tudo se faz esquecer, mágoas, desesperos, fragilidades, e os dois unos em um momento dos orgasmos, se tocam, se degustam, se mexem, se convertem e se abrem se encaixam e se explodem numa grande bolha.

O que era homem caçado pela sereia e o que era sereia melancólica transformam-se em um orgasmo de choques, estremecimentos das carnes,pequenas convulsões em que os corpos pedem mais, até a última investida, que fique, que se deixe ficar dentro um do outro.

Nesse instante, os olhos que olham da grande varanda a beira mar entende que existem rendeiras do mar, sereias, mas aquele chiado das espumas e o barulho das ondas que querambram próximas ao pier das lanchas é a explosão do amor, o grito que sempre está contido pela vergonha de dizer gozei.