Na verdade, não há

Bom, se você acha mesmo que é bom falar sobre isso... De vez em quando eu prefiro deixar o passado de lado. Mas realmente... Até hoje eu não deixei completamente pra trás. Eu sinto muita falta, e sinto as conseqüências dessa falta. Ele deixou saudade...

É engraçado, a imagem que eu tinha dele mudou tanto. Acho que é porque, no final, ele parecia outra pessoa. Distante. Expressão sempre séria, palavras breves, definitivamente não estava normal. Parece que foi tudo de caso pensado, parece que ele já estava perdendo o interesse por tudo.

Agora eu me dei conta... Eu me esforcei tanto em não olhar as nossas fotos, que acabei me esquecendo de como o rosto dele era, exatamente.Os traços estão confusos na minha mente... Eu sei que estão no lugar errado! Eu não consigo ver direito... O jeito de falar... Está tudo trocado! O jeito de andar, de se mover... Não lembro mais!

De vez em quando me vem uma memória ou outra. Eu lembro dos lugares em que a gente ia, dos shows, das fotos, dos filmes que a gente viu. Mas ele sempre aparece como um borrão nessa história toda.

Das músicas, porém, eu nunca me esqueço. Ele andava sempre com um violão nas costas. Independentemente da hora ou da situação, ele sempre arrumava uma brecha para tocar alguma coisa. De vez em quando ele compunha alguma música, às vezes me dava a partitura. Essas, eu guardo e olho até hoje. Fico horas olhando, não ouso tentar tocar. Não sei dizer ao certo, mas sempre via uma espécie de alma nas músicas dele. Eu tenho medo de fazer com que essa alma se perca...

De fato, ele sempre foi e sempre será muito importante para mim. Eu sempre lembro dele, em todo lugar. De vez em quando eu fico tentando imaginar como seria se ele ainda estivesse aqui...

Foi a época mais feliz da minha vida, seguida dos dez dias mais tristes. Logo nos dez dias em que eu mais precisava de alguém, ali, tentando me animar. Parecia que o mundo estava contra mim. Nada deu certo. Eu senti cada minuto da pior maneira possível.

Mas o que mais me desespera nessa história toda, é ver de perto que os bons nos deixam tão cedo. Lá, vendo a última porção de terra sendo jogada, eu me senti lá em baixo, junto com ele. A vida, por alguns instantes, me pareceu tão frágil... Tão vã. Eu sinto tanta falta... Amigo assim, nunca mais vou ter. De vez em quando, eu me pego sonhando acordado, desejando ter ido enquanto ele permanecia aqui.

Mas do que adiantaria? Minha vida continua... Eu abaixo a cabeça e penso o quanto é difícil conviver com a perda de um amigo tão próximo... Eu preciso seguir meu caminho, ser forte. Mas nunca vou me esquecer daquele dia... O dia em que eu morri um pouco.

Luciana
Enviado por Luciana em 16/05/2008
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