Um presente de casamento

(resenha de um conto)

Disseram-me que, naquele dia, Lucilene parecia a pessoa mais alegre e a mais feliz de todas, pois era o tão esperado e sonhado dia do seu matrimônio.

Tudo já estava impecavelmente preparado. Os convidados e os amigos já se achegavam. Os presentes, primorosamente embalados em papéis divinamente coloridos, começavam a enfeitar a cama nupcial que graciosamente exibia o vestido da noiva, ao tempo em que uma música suave invadia o ar delicadamente perfumado com o aroma sutil de inúmeros buquês espalhados por todos os cantos da casa.

A felicidade estava a poucos minutos de Lucilene, que não parava de sorrir e de si dizer emocionadamente apreensiva.

— Mãe, tire este gato de perto do meu vestido. Já imaginou se ele amarrotá-lo? Ai não terá casamento! — Dizia Lucilene, muito preocupada.

— Calma filha, o Miau (nome do bichano) que não seja louco de estragar seu casamento! — Exclamou dona Dida, tentando amenizar a ansiedade da filha, que mesmo risonha não escondia o nervosismo.

Seu José assistia a tudo passivamente sereno, pois dentro em breve perderia a meiga companhia da filha querida, e, de vez em quando, via-se em seus olhos um inevitável brilho de lágrimas que só era desfeito com alguns sorrisos levemente dirigidos aos convidados que se adentravam no seu lar.

A carruagem, divinamente enfeitada para o translado, já se postava frente à casa. As damas-de-honra, os padrinhos e os amigos, faziam pequenas rodas de bate-papos enquanto animavam o ambiente, e esperavam.

— Mãe, dá outra espiada no meu vestido, e vê se o Miau entrou no quarto! — Lucilene voltou a se preocupar com o gato.

— Não se aflija Lucilene, a porta está fechada, e este gato que não seja besta! — Respondeu-lhe enquanto assistia aos retoques de maquiagem na noiva.

— Gente, se apresse — avisou seu José —, já está quase na hora! O padre e o noivo certamente já estão no altar.

Lucilene saiu correndo da maquiagem e dirigiu-se ao quarto para se vestir.

— Só quero que me vejam vestida de noiva, ok? Com licença!

E, sorridente atravessou o corredor e entrou no quarto. Trancou a porta por dentro, e deu um grito de terror: o maior de todos em sua vida. E caiu desmaiada.

O quê aconteceu? Que barulho foi esse?

Todos da casa se entreolhavam intrigados com o acontecido.

Tentaram abrir a porta, mas só conseguiram entrar depois que seu José arrebentou-na. E lá dentro, ao lado da cama, o corpo inerte de Lucilene estirado no chão, e, sobre a cama, o vestido da noiva todo sujo com fezes de gato.

O casamento foi adiado, e o gato, obviamente sacrificado por Lucilene.

José Pedreira da Cruz
Enviado por José Pedreira da Cruz em 15/01/2006
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