A Fábula dos Filósofos de Botequim

Em torno de uma mesa de bar reuniam-se alguns estudantes e seu velho professor. Entre um gole e outro de cerveja semeou-se uma discussão sobre a qualidade da literatura contemporânea brasileira. Foi quando um dos estudantes, o mais arrogante, ares de intelectual, ainda que de boteco, defendeu a idéia de certas pessoas serem privadas por decreto presidencial do direito de publicarem. Paulo Coelho foi quase uma unanimidade entre o grupo, seguida de Bruna Surfistinha por uma cabeça. Luís Fernando Veríssimo, João Ubaldo Ribeiro e alguns velhinhos da ABL também foram citados pelos defensores da vanguarda literária castradora de liberdades instalada naquela mesa de bar. Perguntado sobre quem ele mandaria para o limbo das letras, o professor argumentou que proibir a publicação de uma obra pelo simples fato de desgostar do autor ou a mesma ter duvidosa qualidade cheirava a censura, das brabas. Houve protestos. O estudante arrogante acusou o professor de ser "politicamente correto" e apelou para conceitos de Nietszche sobre democracia e liberdade para pavimentar suas argumentações.

Naquele exato momento, as atenções do grupo foram desviadas para uma TV instalada dentro do bar. A tela vomitava uma bunda de mulher rebolativa ao som de música funk. Diante de tamanha volúpia carnal, os rapazes da mesa esqueceram a mediocridade literária assolante em terras brasileiras e passaram a analisar a beleza e o tamanho do rabo apresentado via satélite. O professor, vitimado pela tortura de um regime ditatorial que a maioria na mesa teimava em desconhecer, bebeu um gole de sua cerveja para em seguida comentar:

- Graças a liberdade de expressão, vocês estão todos agora de pau duro. Nietszche que se foda!