Mulher no volante – Soluções constantes!

Há dois anos Leia dirigia o caminhão herdado do esposo falecido, que ainda tinha dez prestações a serem pagas, ela não via a hora de o carnê logo acabar. Em quase 10 anos de casada, acompanhou seu marido em todas as viagens que fazia só ficando em casa nas ultimas semanas das duas gestações que teve, e quando os meninos cresceram deixava com a sua mãe enquanto acompanhava o marido dividindo com ele o volante nas viagens mais longas, e ele se sentia melhor em sua companhia.

Depois de sua morte. Com muito custo conseguiu convencer o dono da transportadora, deixá-la trabalhar. Ele apesar de saber da experiência que ela tinha junto ao marido, ficou receoso, mas apesar de não gostar muito da idéia, resolveu ceder, o marido de Leia nunca havia faltado com nenhum compromisso, ele havia deixado dois filhos pequenos e as prestações do caminhão pra ela pagar, não custava nada ajuda-la.

Todos os caminhoneiros que trabalhavam na transportadora, apoiaram a iniciativa por terem uma grande estima pelo Falecido, porém havia um deles que fazia questão de sempre alfineta-la, o nome dele era Pedrão, era o típico caminhoneiro metido a machão, que onde pára deixa rastro de ilusão nas moças que o dão bola, que contava vantagem em tudo.

Um dia, Leia recebeu uma ligação do dono da transportadora, quando olhou no celular o número dele, pensou em não atender, mas pra ele ligar, devia ser algo urgente. Quando ela atendeu, Seu Justino foi logo perguntando se ela podia lhe fazer um grande favor: Entregar uma carga, pois o motorista que estava na vez não aparecera e seu celular estava desligado.

Apesar do sacrifício, ela disse que sim, e os filhos ao ouvirem as ultimas palavras da mãe já fizeram biquinho de quem ia chorar, ela disfarçou, fingiu que não percebeu esse detalhe, mesmo que seu coração estive apertado por deixar seus dois pequenos novamente, mas era preciso a parcela do carnê do caminhão estava chegando e apesar da saudade que levava consigo em toda a viagem, era preciso, pois fora a divida do financiamento, ainda tinha que sustentar sua mãe e seus dois filhos.

Fazia duas semanas que não vi os filhos e tinha aproveitado apenas dois dias das férias de uma semana que havia prometido pra si, mas o pedido do seu Justino era irrecusável, pois apesar de está enfim no aconchego do lar ao lado dos filhos queridos, dizer não para o homem que lhe deu as mãos numa hora difícil era imperdoável, mas ele sabia cobrar bem o favor que lhe fez, sempre com essas cargas inesperadas.

Chegando ao pátio da transportadora, pegou os documentos da carga no escritório e fora informada que teria que busca-la em outro endereço não muito distante dali, agradeceu a secretária, embarcou no caminhão e saiu em direção do galpão, quando lá chegou foi recebida por dois guardas que ao perceberam que se tratava de uma mulher, foram logo fazendo graça, enquanto ela encostava o caminhão próximo à carga.

-Você sabe por que mulher não sabe fazer balisa? (falando em alto tom, pra ela ouvir)

-Não! (respondeu o outro homem)

-E porque o fogão não tem ré.

-Ah! Tem outra.

-Qual é?

- Porque os homens são responsáveis por 99% dos acidentes de trânsito?

-Essa eu não sei – disse o outro

-É porque em todas às vezes, eles emprestaram a chave do carro pra uma mulher!

Os dois caíram na gargalhada, enquanto outro funcionário se aproximava.

Ela com a seriedade que faz qualquer um se por no lugar, fez seu trabalho, fingindo não perceber as piadinhas que ouvia, já estava acostumada e seu silêncio era a melhor resposta aos engraçadinhos. Terminou de arrumar a carga para a viagem sobre o olhar dos três homens que ainda riam dela, entrou no caminhão e saiu.

A viagem não era tão longa assim, duraria cerca de 5 horas, só que muitos caminhoneiros não gostavam daquela rota mesmo ela sendo curta por terem que passar por uma reserva indígena. Apesar dos tantos boatos que rondavam aquele lugar, ela não deixou se abater, e com sua experiência em tantos outros perigos na estrada, passar por alguns índios não representava pra ela uma grande ameaça.

A viagem estava quase no fim, faltava apenas uma hora pra chegar à cidade, a reserva já estava a poucos metros, quando ela se aproximou mais, viu um caminhão parado no acostamento e a frase lida no pára-choque que dizia: “Existem duas classes de mulheres, as que me amam e as que não me conhecem”, logo denunciou o seu dono, era do Pedrão, o caminhoneiro machista.

Mas, o que ele estava fazendo ali, pela escala habitual, era pra ele está com aquela carga e não ela. Será que havia acontecido algo? E se os índios o tivessem prendido? Não havia movimentação, ela podia prosseguir a viagem, mas e prestar ajuda a um colega que talvez estivesse em apuros, não era o que ela devia fazer? Apesar do receio que estava sentindo do que ia encontrar pela frente, resolveu encostar o caminhão, e pra se certificar que o cavalo era mesmo dele, ela foi até a dianteira, levantou o olhar e leu outra frase: “Todo feminismo acaba com o primeiro pneu furado”. Esse cara era de irritar qualquer mulher, ele bem que merecia levar pra casa uma lição das índias.

Mesmo sem saber o que estava realmente acontecendo, ela resolveu verificar, saiu devagarzinho em direção a uma casa que ficava do outro lado da pista tranqüila, foi quando viu uma velha senhora sentada numa cadeira que disse:

-Você, está procurando o dono daquele caminhão, minha filha?

-Sim, senhora. Gostaria de saber se ele está bem.

-Ele está lá nos fundos, mas não creio que esteia tão bem assim.

-Obrigada.

Ela ansiosa pra elucidar a expectativa, deu a volta na pequena casa e se deparou com Pedrão amarrado em uma árvore, em volta dele estavam várias mulheres.

- Pedrão, o que está acontecendo?

-Essas malucas me prenderam aqui, eu tava trocando o pneu que furou, quando uma delas chegou toda risonha, achava que ela tava me dando bola, eu botei pra cima, quando vi, ela saiu correndo, e já voltou com uma turma que me amarrou e me trouxe pra cá.

-Você também, com tanta mulher no mundo, vai logo dá em cima de índia, não sabe que elas têm cultura diferente da nossa.

-Eu, ia saber. Sorriu pra mim, é porque alguma coisa quer.

-Você e seu machismo! Merece é está ai no tronco mesmo.

De repente apareceu a mesma senhora que estava sentada na casa, a puxou em um canto e perguntou.

-Ele é seu esposo?

Ela pensou um pouco, e resolveu afirmar pra tirar Paulo daquela situação.

-Sim, é meu esposo, Fiquei preocupado com sua demora e resolvi vir atrás dele.

-Minha filha, com um homem desses em casa, quem precisa de um cachorro.

-Estamos nos separando, mas temos filhos que o adoram.

-Fico feliz pela sua separação. Vou pedir pra desamarrá-lo, mas peça a ele nunca mais passar por aqui, ele desrespeitou uma moça que está prometida, e isso é uma falta muito grave.

-Entendo e agradeço muito sua generosidade.

-Mas, filha. Quando você quiser pode vir aqui. Será bem vinda.

-Obrigada, a senhora é muito gentil.

-Apesar de sermos índios, somos mais civilizados que seu marido. Agora o leve.

As índias que estavam em volta dele com flechas apontadas, com um pedido da velha senhora, o desamarraram e o deixaram ir. Na frente dos caminhões, Pedrão mais calmo, pergunta a Leia:

-Como você fez isso? Graças a Deus que passou por aqui, não sei o que ia acontecer comigo.

Ela já dentro da cabine do seu caminhão, com o motor funcionando olhou pra ele e disse:

- Quando você quiser que algo seja dito, peça a um homem. E quando você quiser que algo seja feito, peça a uma MULHER.

Enquanto o caminhoneiro ficou parado, sem ação pra responder nada, ela deu partida, tinha uma carga a ser entregue. Depois de alguns minutos pensando no que ela tinha falado, uma índia se aproximou, ele rapidamente entrou na boléia, ligou o carro e saiu em disparada.

-Eu só ia entregar o chapéu dele, eita homem medroso! – Disse a jovem índia