Outro bom de cama

- Você acompanha sempre sua mãe ao médico?

- Desculpe senhora, aquela é minha esposa.

- Oh! Perdoe-me fui tão inconseqüente.

- Não por isto, senhora!

- Custa-me acreditar que um rapaz tão jovem se envolva com uma mulher mais velha, e no seu caso é muito mais velha mesmo. O que lhe levou?

- Não sei, talvez, me sentir bem seja a melhor parte. Talvez me atraia numa vida mais calma. As mulheres com mais idade já não ligam muito para as agitações. Já tem uma vida mais ou menos resolvida. Já foi filha, mãe, mulher, avó. Talvez...

- Mais meu filho! Tenho idade para ser sua mãe, viu! E vou lhe dizer uma coisa. Na sua idade você devia começar uma história nova, com uma garota de sua idade?

- A senhora tem filhos?

- Sim, tenho.

- Como são os relacionamentos deles?

- Nem quero lembrar, o meu filho não me ouve!

- O caso dele é mais complicado que o meu?

- Nem imagina, olhe que conselho não lhe faltou. Quando eles começaram o relacionamento parecia ser muito bom. Eu achei que seria uma boa para ele.

- Por que?

- Vou lhe contar tudo, só estamos conversando enquanto sua esposa faz os exames, não é?

- É, e pelo jeito vai demorar. Falta o teste de esteira, só aí se vai meia hora. E, olhe, eu ainda não casei.

- Oh! Deus! Você ainda tem jeito meu filho. Deixa eu lhe contar de meu filho. Como lhe falei no início eu até achei que seria bom. Ele, um rapaz tímido desses que ainda jogava botão sozinho no quarto. Havia recentemente arranjado um emprego de caixa de banco. Acredita levava seu lanchinho para não ter que ir ao restaurante do banco, e no meio de todos se servir. Um rapaz do estudo, do quarto pra sala pro quarto, de poucas palavras, organizado, respeitador, responsável, um exemplo de menino. Ganhou um prêmio no trabalho de funcionário mais organizado do mês, por longo tempo. Ela, ativa, falante, anda cantarolando, sabe o que quer, uma energia que nos admirava a todos. Tomou providência logo de tirar o meu menino daquela monotonia de vida que levava. Logo o jogo de botões foi trocado por festas, noitadas, viagens. E meu garoto era sorriso só. Ah! Estou me esquecendo de dizer que tinham a mesma idade. Um namoro alucinante. Confesso dei garrida e o quarto era mais um campo de batalha. Os ruídos que se ouvia pareciam de dor, mas, quando abriam a porta saiam exaustos se arrastando e mortos, mais de fome. Num deu 6 meses, meu rapaz! Resolveram casar. Quase fui à loucura. Como um rapaz jovem que tinha 18 anos, com a vida toda pela frente, resolvera se casar. Resolvi acabar com aquela farra, bem debaixo de meu teto. Na vista de todos era uma bobagem a vontade daquele casal. - Mãe eu sou feliz, mãe! Meu filho! Não estou pedindo pra você não ser feliz. Estou lhe pedindo para esperar mais um pouco. Olhe moço não houve conselho que lhe tirasse da cabeça se casar. Já antes do casamento, a moça levou meu filho a falência. Imagine uma festa, onde para começar foram distribuídos 500 convites em forma de caixas e dentro dessas caixas o convite lá no fundo todo coberto de pétalas de rosas vermelhas naturais até a tampa, essa transparente com letras gravadas em tinta ouro com salpicos de ouro em pó de verdade. Um gasto! Casaram! Aí é que começaram os problemas. Meu filho já falido financiou os móveis e as roupas que começariam a vida de casados. Até aí tudo bem, iam pagando aos poucos e tudo mais. Não fosse a atitude da criatura em doar móveis, roupas e tudo um mês depois do casamento só por que não estava mais se agradando. E no mesmo dia comprou tudo de volta, só que a despesa desta vez fora o triplo da primeira seguida da reclamação de que ainda faltavam algumas coisinhas. O meu menino caiu no desespero. Também moço! aí eu me vinguei, falei, e agora Zé mané que vai fazer? – Coitadinha! Mãe só umas comprinhas! Faliu de vez. No outro mês não pode mais pagar o aluguel. Mudou-se lá pra casa. O quarto agora nem é mais um campo de batalhas mais se aproxima de um furacão do apocalipse que vai destruir toda a humanidade. Olha! Tua esposa já está saindo.

- Num casei ainda!

- Eu sei bobinho, ela está saindo!

– Já terminou os exames, meu bem?

- Já! Oi Dona Francisca. A senhora por aqui? Aconteceu alguma coisa?

- Não! Não, querida! exames de rotina.

- Oi espera aí, vocês se conhecem?

- Nos conhecemos, meu bem. O filho de D. Francisca é casado com minha filha. Um exemplo de casal. Vivem tão bem! Não é D. Francisca?

- Num é que estava falando justo nisto, querida.

- Tchauzinho, D. Francisca. Vamos meu bem?

- Vamos. Meu bem! Acho que vou dormir hoje na casa de mamãe, viu?

Crontei.

Depois eu cronto mais.

Manuel Oliveira
Enviado por Manuel Oliveira em 27/05/2008
Código do texto: T1008162