O Baú do Fã do Raul

Há quase dez anos venho guardando anotações, crônicas, textos, poemas e poesias, rabiscados em papéis que tinha em mãos na ocasião da escrita, folhas de cadernos, blocos de notas, sulfite e até mesmo, anotações no verso do papel carbono. Sim, eu sei! É cômico, mas o efeito do grafite na folha carbonada fica lindo. Certa vez começei a escrever no computador. Abri um novo documento no Word (Editor de Textos) e começei, todo dia, a escrever basicamente um diário pessoal. Na época eu trabalhava em uma grande rede de drogarias, e todos os dias, quando acabava o expediente, sempre por volta das nove da noite (exceto no plantão), eu passava no Bar do Takashi (que partiu em setembro e deixou muita saudade - inclusive, tenho um texto também sobre o velho e enigmático japonês e seu botequim). Era nesse bar que eu fazia uma análise do dia, ou da semana, pra quando chegasse em casa, transcrever tudo no diário, que batizei de "Vários Escritos". Até hoje mantenho este vício, mas em menor proporção. Mesmo assim, deste diário virtual - e muito pessoal, tirei o que se transformou n''um projeto para quem sabe uma futura publicação. Não selecionei nada. Está nú e crú, original, como foi escrito. Nem mesmo corrigi os erros gramaticais. Somente uma pessoa até hoje leu o conteúdo deste ''livro'': minha namorada e amiga Spacey Del. Através destes escritos todos, tanto os do diário no computador, quanto os, calculo milhares de anotações escritos à mão, guardado em uma caixa de papelão enorme, que carinhosamente batizei de "O Baú do Fã do Raul", em uma sutil alusão ao famoso "Baú do Raul", que o sugestivo nome refere-se a um antigo baú onde Raul Seixas guardava suas anotações e objetos diversos, e que o acompanhou durante a vida toda, desde a infância na Bahia, até os dias de fome e de glória no Rio de Janeiro e na maravilhosa Cidade da Garoa, São Paulo, linda Sampa, coleciono momentos tristes, alegres, situações diversas do cotidiano, paranóias, loucuras, sabedorias, aprendizados, amores, paixões, ódio e medos.

É fato que adquiri esta mania lendo, pesquisando e estudando a vida e obra de Raulzito e tomei como influência sua mania de documentar tudo para a posteridade.

Ás vezes sinto que tudo isso é uma tremenda paranóia. Confesso que morro de medo, tenho verdadeiro pavor, de, por qualquer circunstância, esquecer tudo o que vivi, pensei, olhei, senti, sofri...

É realmente uma coleção de momentos. Momentos ''cinzas'' e ''azuis''.

Momentos meus.

Fernando Pinéccio

Itapira/SP

08/09/20 06

03h13m