Pela mão do covarde morre o valente...

"Pela mão do covarde morre o valente..." esse verso integra uma música, um modão de viola cantado e tocado pela eterna dupla "Tião Carreiro & Pardinho", sempre gostei das modas que eles tocam, e esse verso me faz lembrar de um episódio...

Eu conhecia um cara chamado Joaquim, ele era pardo, trabalhava como encanador, tinha um bar e jogava capoeira como ninguém.

Era graduado em Capoeira Regional pelo Grupo Cativeiro, de Ribeirão Preto e foi aluno do Mestre Monteiro. O Joaquim era do tipo fenômeno, pois ninguém conseguia levar a melhor contra ele em uma roda de capoeira ou briga de rua.

Tinha outro moleque, um neguinho, apelidado Diguim, e o moleque era prodígio, era um corisco no jogo, porém, quando topava com o Joaquim na roda, sempre levava a pior, pois acabava apelando e apanhava ainda mais.

No Bar do Joaquim, tinha umas máquinas de fliperama e o Diguim, direto ficava lá, jogando. E como o Joaquim fazia uns bicos de encanador, deixava seu filho tomando conta do Bar e o Diguim aproveitava e folgava com o moleque, pegando fichas sem pagar, bebendo refrigerante e afanando alguns doces e salgados.

Quando o Joaquim chegava, e o filho dele contava o ocorrido, ele esperava o Diguim, e dava-lhe uma coça daquelas, de esquentar o escutador de novela.

Mas acontece que o Diguim começou a andar com uma turma da pesada, metida com tráfico, assaltos e diversos assassinatos e os caras tiravam onda da cara do Diguim, toda vez que ele aparecia com um olho rocho ou com a boca inchada.

Certo dia o Diguim folgou no Bar e o Joaquim colou o brinco dele, deixando-o surdo por alguns dias, nisso Diguim foi até a turma barra pesada e disse que queria uma arma para acabar com o Joaquim.

Os caras pegaram um 38, seis balas e deram na mão do Diguim, não sem antes advertir:

_Se você pegar essa arma e não matar, quem vai comer capim pela raíz é você! Tá ligado ?

Diguim assentiu que sim e rumou para o Bar, chegando lá, ele não entrou; chamou o Joaquim para fora e disse que era para eles acertarem as contas. O Joaquim pulou o balcão e foi com tudo, nisso, o Diguim começou a disparar, mas devido à inexperiência com armas de fogo, não conseguia acertar, ele desferiu três tiros errados e o Joaquim conseguiu se esconder atrás de um poste, e quando o Joaquim tentava olhar, o Diguim atirava, por fim, sobrou somente uma bala no tambor do revólver, e foi esta, a derradeira, que encontrou a cabeça do Joaquim quando ele foi tentar correr de volta para dentro do Bar (acho que ele contou os tiros e pensou que as balas haviam acabado).

O Diguim fugiu para outro Estado e depois se entregou, cumpriu 5 anos de cadeia e hoje anda por aí, livremente, e é por isso que eu lembro que pela mão do covarde, morre o valente.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 10/06/2008
Código do texto: T1027898
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.