SANGUE FRIO.

     Quando viu Paola na faculdade pela primeira vez, Fabrício se apaixonou imediatamente. Seu coração acelerou, suas pernas bambearam e ficou sem palavras para dizer o que estava sentindo, então apenas ficou olhando.
     Ao perceber que estava sendo fitada, Paola virou-se e seus olhos encontraram os de Fabrício. Ele deu um leve sorriso e ela correspondeu com um também, mas depois virou-se para a amiga com quem conversava, passou a mão no cabelo e voltou para a sala, pois o intervalo já havia acabado. Mas antes olhou novamente, e Fabrício percebeu.
     Depois desse primeiro encontro ele começou a investigar para saber qual sala e andar ela estudava, até que descobriu tudo e ficava rodeando o local, sonhando em encontrar novamente a bela Paola.
     Até que um dia tomou coragem e foi ao encontro dela, chamou-a enquanto conversava com umas amigas e foram bater um papo em outro lugar. Perguntaram o nome um do outro, o que gostavam de fazer e após alguns minutos já estavam dando boas risadas juntos, enquanto as amigas de Paola cochichavam e davam risadinhas maliciosas.
     Os encontros tornaram-se freqüentes e os dois começaram a sentir que a amizade já estava tornando-se algo mais forte. O que aumentou quando o Fabrício tomou a decisão de beijar Paola. Foi num canto meio escondido do pátio que isso aconteceu, eles estavam conversando sobre relacionamento e num certo momento as palavras se acabaram, os dois se olharam profundamente, Paola mordeu o próprio lábio e Fabrício sentiu como se fosse um convite, que ele aceitou. Colocou sua mão delicadamente no rosto de Paola e acariciou até chegar no pescoço, aproximou-se mais um pouco enquanto ela fechava os olhos, sabendo que seria beijada. Sem pressa e com muita paixão o beijo demorou alguns minutos, o coração dos dois acelerou e á partir daquele dia, nunca mais se separaram.
     A cada dia o amor deles aumentava, e as carícias e cumplicidade eram tantas que chegava a incomodar os que estavam em volta, acho que era até inveja, daquele lindo casal.
     Três vezes por dia se falavam no telefone, era amor pra cá, amor pra lá e um carinho tremendo que um tinha pelo outro.
     Ficaram dois anos nesse intenso relacionamento, até que resolveram se casar. 
     Marcaram a data e tudo caminhava ás mil maravilhas, do jeito que Fabrício sonhou, quando pela primeira vez, viu a sua bela Paola.
     Mas nem tudo são flores, e faltando uma semana para o seu casamento ele descobriu que a sua amada estava lhe traindo, então o seu mundo desmoronou. Chorou em silêncio num canto do seu quarto por dois dias seguidos, mas resolveu-se que iria se casar, apesar de tudo.
     Contratou um detetive para investigar melhor o que ele havia descoberto, e o profissional confirmou o que Fabrício já sabia. Os seus sonhos e planos feitos com Paola foram para o vinagre, como um pergaminho sagrado que se dissolve.
     Várias fotos foram tiradas para registrar a infidelidade. Fabrício as pegou com muita dor e pagou o detetive agradecendo pelo ótimo trabalho, guardou as fotos num envelope e foi cuidar dos preparativos para o casamento.
     Passou primeiro no Buffet e procurou a mulher que estava organizando a sua festa, conversaram por uns dez minutos e depois se despediram. A mulher se chamava Alice – uma linda morena de olhos azuis – mas Fabrício não prestou muita atenção, estava com a cabeça fervendo.
     Foi visitar sua noiva após o dia de preparativos e a tratou como se nada tivesse acontecido, beijou-a carinhosamente, olhou profundamente nos olhos dela e acariciou o seu rosto, como havia feito no primeiro encontro. Ela percebeu algo diferente no noivo e perguntou:
     - O que você tem amor?
     - Nada querida! Por quê?
     - É que você me olhou de um jeito...
     - Te olhei do jeito que lhe olho sempre, com amor.
     - Eu também te amo Fabrício! Disse Paola enquanto abraçava Fabrício.
     Ele recebeu o abraço como se não soubesse da traição da noiva e ainda lhe deu um longo beijo na testa, em sinal de respeito, enquanto por dentro o seu coração chorava por ter sido enganado pela mulher que tanto amava.
     Passaram-se mais alguns dias e o tão esperado e sonhado dia chegou, embora os sonhos já tivessem se transformado em pesadelos para Fabrício.
     Acordou bem cedo e foi ao cabeleireiro. Cortou o cabelo, fez a barba e voltou para casa. Tomou um longo banho enquanto pensava em Paola, escolheu o melhor perfume e vestiu um belo smoking branco, colocou uma gravata vermelha e foi para a igreja.
     Quando chegou ainda não havia nenhum convidado, e nem mesmo o padre. Então ele entrou na catedral, fez o sinal da cruz e ajoelhou-se próximo ao altar, rezou por alguns minutos, levantou-se, olhou para imagem de Cristo sangrando na cruz e novamente fez o sinal do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Virou-se para a saída, caminhou em direção a porta e pensou em fugir, mas virou-se novamente para o altar e caminhou até lá.
     Após alguns minutos de solidão na bela e grande igreja, o padre apareceu e perguntou á ele:
     - Você que vai casar hoje meu rapaz?
     - Sou eu sim padre, por quê?
     - Por nada. É que nunca vi um noivo tão apressado assim, chegou cedo demais.
     - É que estou um pouco ansioso padre, esperei muito por esse dia.
     - Então eu espero que você respeite sua mulher e que vocês sejam bastante felizes.
     - Eu também esperava padre.
     - Como disse rapaz?
     - Nada seu padre, nada. Pode continuar as arrumações como se eu não estivesse aqui. Eu cheguei cedo para admirar a igreja e rezar um pouco.
     Por uma hora e meia, Fabrício ficou sozinho na Igreja e mais trinta minutos com a companhia do padre, até que os convidados começaram a chegar, sendo que após o primeiro, passaram-se apenas quarenta minutos para que a igreja ficasse lotada.
Fabrício subiu no altar quando o padre o chamou avisando que já estava na hora. Depois vieram os padrinhos e a noiva, quando a música anunciou.
     Paola estava mais linda do que nunca, e Fabrício não se conteve, começou a chorar. Paola entrou lentamente igual ás noivas costumam fazer, enquanto também chorava ao olhar profundamente para Fabrício, só não sei se era de alegria, ou de remorso.
     O pai de Paola a entregou para Fabrício, que lhe deu um forte abraço e agradeceu, levantou o véu da noiva e na testa um beijo ele deu.
     Tudo foi dito e feito como manda a tradição, até que finalmente chegou a hora do sim, que foi dito pelo casal. Trocaram as alianças, se beijaram, cumprimentaram os padrinhos e saíram de mãos dadas, enquanto sorriam para todos os convidados, que comentavam:
     - Que casal lindo...
     Todos foram para a festa que aconteceria á cinco minutos da igreja, mas antes o casal foi até uma praça próxima para fazer algumas fotos, e para chegarem á festa após todos os convidados.
     - Finalmente eles chegaram! Disse uma das tias fofoqueiras de Paola, ao ver que o carro do casal se aproximava.
     Todos então levantaram para aplaudir a entrada do casal, que pareciam muito felizes. Cumprimentaram convidado por convidado que já enchiam a barriga com batatinha em conserva, depois trocaram de roupas para também curtirem a festa.
     Passada uma hora após o início da festa, Fabrício subiu no palco onde estava o DJ e disse que gostaria de dizer algumas palavras em agradecimento aos convidados. 
     Todos então pararam de dançar e ficaram apostos para ouvir o noivo, que disse:
     - Pessoal, eu gostaria de agradecer a presença de todos que aqui estão. Gostaria de agradecer os amigos que eu tenho e também a minha família, pois foi por causa deles que hoje eu estou aqui. E por ser grato á vocês é que resolvi preparar um presente para todos.
     Os convidados começaram a cochichar enquanto já estavam curiosos para o presente.
     Paola subiu no palco sem saber o que estava acontecendo e perguntou:
     - Que presente Fabrício? Nós não compramos nada.
     - Relaxa Paola, é coisa simples, não se preocupe. Respondeu ele, antes de dar outro beijo na esposa e pedir para que ela descesse.
     - Eu quero pedir um favor á todos, disse Fabrício antes de completar: Gostaria que vocês levantassem de suas cadeiras e pegassem um envelope que está embaixo da cadeira.
     - O que tem no envelope Fabrício? Perguntou Paola.
     - Calma querida, logo você saberá.
     Então Fabrício continuou:
     - Mas antes pessoal, eu gostaria que soubessem que não estou fazendo isso por vingança, estou fazendo isso para que todos saibam o quanto gosto de Paola, e o quanto foi doloroso para eu estar aqui hoje como noivo. Talvez foi melhor assim, pois talvez eu não tenha sido um bom parceiro ou um bom companheiro, mas uma coisa eu mantive para com minha mulher, o respeito.
     - Agora eu gostaria que abrissem o envelope.
     Todos seguiram o pedido de Fabrício e então abriram o envelope, sendo que o que encontraram foi um choque para todos os presentes. Neles continham as fotos picantes de Paola com o seu amante, que era o melhor amigo de Fabrício, sendo que em cada um existia uma foto diferente, com uma posição diferente, mas em todas, a infidelidade era clara.
     O silêncio tomou conta da festa e a noiva saiu correndo para a rua, enquanto chorava.
     Fabrício então pegou o microfone novamente e falou enquanto também chorava: Meus amigos, eu peço desculpas por esta noite horrorosa, e também peço desculpas ao pai e à mãe de Paola, mas quero que saibam que o mais difícil foi para mim, que em troca de um intenso e sincero amor eu ganhei uma facada pelas costas. Mas o sangue que me escorreu não foi um sangue quente, foi um sangue frio, que me fez manter a calma e mostrar á todos o caráter de minha amada, assim como do meu melhor amigo.
     - Quero que saibam que amanhã eu também irei ao cartório e anularei este casamento, assim como tudo o que aconteceu nesta noite, e assim, estar livre para encontrar uma mulher que me queira e me respeite.
     - Quero também esquecer a traição que sofri para que o ódio não alimente o meu coração, sem desacreditar de que o amor existe, só não foi desta vez.
     Ao terminar o doloroso discurso Fabrício colocou o microfone no lugar, olhou para os lados e não sabia o que fazer, enquanto muitos vieram consolá-lo, mas ele nada quis ouvir, apenas saiu, afrouxou a gravata e seguiu em direção á rua, virou á direita na calçada e sentou no banco de uma praça próxima, sendo que logo em seguida chegou a Alice, organizadora do Buffet, que sentou ao lado de Fabrício, pegou na mão dele e disse:
     - Você teve muito sangue frio e foi muito corajoso.
     - É eu fui. Mas não adianta nada. Respondeu Fabrício enquanto chorava cabisbaixo.
     - Adianta sim! Adianta que você mostrou o homem que você é. Embora tenha tido uma decepção, você mostrou que pode amar alguém, mesmo que esse alguém lhe machuque.
     Depois dessas palavras a Alice o beijou na testa e passou a mão em seu rosto, depois pediu para que Fabrício olhasse para ela. Ele olhou com os olhos já vermelhos de tantas lágrimas, e pela primeira vez percebeu como Alice era linda e como tinha um olhar doce. Aproximaram-se do rosto um do outro, e beijaram-se apaixonadamente...
Elder Prates
Enviado por Elder Prates em 17/06/2008
Reeditado em 08/03/2010
Código do texto: T1038043
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