Pânico e autodefesa
Final dos anos oitenta, início dos 90, época de uma juventude sem rumo, sem muitos ídolos.
Todos os jovens de 15 a 20 anos, adoravam ouvir rock nacional, fumar maconha e saírem sempre em grupos. Um desses grupos, que era melhor ser chamado de gangue, eram os Rebeldes.
A turma dos Rebeldes era composta de mais ou menos 30 caras, em sua maioria, moradores das periferias da cidade, existiam outras, menos numerosas, como os Bronk´s, Abu3 e Pakatos, porém os Rebeldes comandavam; eram unidos e andavam sempre juntos, pichando muros, depredando o patrimônio público, e o pior, espancavam muitos outros jovens nas saídas das escolas e dos bailes e boates da cidade.
Tinha um cara, que estudava no mesmo colégio que eu, se chamava Fernando e tinha uns 17 ou 18 anos.
Um dia, ele topou com os Rebeldes na rua, e eles mandaram um moleque de 12 ou 13 anos provocá-lo, dando-lhe um chute, porém, quando ele foi reagir, os caras vieram para cima, sorte que ele correu, deixando a bicicleta para trás, que foi destruída pela turma.
A partir desse dia, o Fernando não teve mais sossego, parecia sempre acuado, e era frequentemente ameaçado pela gangue, era obrigado a viver cortando caminho dos Rebeldes, enfim, nunca ficava em paz. Se fosse a uma boate, e ficasse sabendo que os caras estavam na porta, tremia para conseguir sair, até os amigos foram tomando distância dele, com medo de apanharem junto.
Certa manhã, o muro da escola estava pichado com os dizeres: "Você vai morrer !" e o símbolo dos Rebeldes, que era uma letra R estilizada, e o Fernando quando viu o recado, sabia que era direcionado a ele.
Dias depois, o Fernando começou a namorar uma garota e combinaram de ir a um barzinho; e como estava morrendo de medo das ameaças, foi até o guarda-roupa do seu pai, pegou um Colt Cavalinho 32, encheu o tambor de balas, colocou na jaqueta e foi namorar.
Quando estava no bar, curtindo seu novo amor, percebeu a movimentação: o pessoal dos Rebeldes não parava de chegar, a pé, de bicicleta, com correntes e cabos de aço nas mãos, faziam gestos de que iriam acabar com ele.
Fernando tremia, suava, e sua namorada entrou em desespero. Ele engoliu seco, e disse para ela:
_Vá embora, com você eles não vão fazer nada.
Ela se negou e disse que ficaria, pediu para que ele avisasse o dono do bar para chamar a polícia, porém, ele sabia que isso só iria piorar a situação, eles teriam ainda mais ódio, além de seu destino não poder ser mudado, apenas adiado.
Ele então juntou o rosto da namorada com as duas mãos, beijou- a a boca e mandou:
_Vai logo, depois eu te encontro na sua casa. Tenho que resolver isso hoje.
Fernando pagou a conta, foi ao banheiro, conferiu o tambor do revólver e saiu do bar correndo, correu o mais que podia, como nunca havia corrido em toda sua vida.
Os Rebeldes, como uma tribo indígena em pé de guerra começaram a persegui-lo, correndo, gritando e rodopiando as correntes no ar; se o alcançassem seria o seu fim.
Quando as pernas começaram a fraquejar, ele se virou, sacou a arma e começou a disparar na direção da turba insandecida.
Um, dois, três tiros...foi até engraçado, mais de vinte caras correndo atrás dele, perseguindo-o, caçando-o, e ao ouvirem os estampidos tentavam brecar, e iam caindo, se esforçando para voltar "de gatão", tropeçavam uns nos outros, e o Fernando se sentiu super-herói, descarregou a arma e acabou matando dois integrantes da turma dos Rebeldes.
Ele fugiu para casa de parentes, e a polícia nem se deu ao trabalho de persegui-lo, pois diziam que ele havia feito uma limpeza necessária.
Eu agradeci muito a ele também, e afirmo que muitos pais e jovens também, pois todos morriam de medo de topar com os Rebeldes em algum lugar e ser mais uma vítima de seus cruéis espancamentos.
Alguns amigos dizem que o Fernando mora no Canadá, e que a família dele se mudou para o Rio Grande do Sul.
Os Rebeldes foram extintos, e seus ex-integrantes se escondem no anonimato.
No enterro, os pais dos Rebeldes que foram mortos clamavam por justiça, porém, quando os filhos andavam espancando inocentes nas ruas, ficavam de olhos fechados e não procuravam nem saber a fama da turma com que os filhos estavam metidos.
Essa passagem um tanto antiga, é um alerta para os pais de hoje:
"Tomem as rédeas de suas crias !"