No metrô

Mas o que será a vida? Um fato que só a torna boa por causa da morte? Como já disse o ator Paulo Autran. Para que viemos e para onde vamos? Muitos filósofos já tentaram e tentam responder outros tantos. Será que em troca da vida a única coisa que possamos oferecer para o mundo é nossa urina, nossas fezes e nosso dinheiro que é um sinônimo destes outros dois?

Estou no metrô meio tronco de fome, este não está lotado como temia, porém vejo ainda inúmeros tipos e nenhum deles me agrada.

Em frente a mim está um garoto, cara de tolo e cabelos espetados a custa de gel, como tantos outros que perambulam em nossa magnífica sociedade das calças caídas, valorizando apenas a imagem, ou estética, com um novo conceito é claro, bem que muitos deles não saibam o que é a estética. O que será que passa na cabeça do menino agora, nada? Estaria seguro se afirmasse a resposta, contudo não faço, o garoto é apenas mais um quadro abstrato vivo que perambula entre nós, apresentado com muitas cores, mas atrás disso tem-se uma tela branca e atrás da tela tem-se um grande vazio até chegar a parede.

Ao lado do quadro está um gordo suando como garrafa de cerveja em anúncios comerciais, em cima das banhas, vê-se uma camisa de uniforme toda molhada, aparentemente o uniforme é de uma empresa de cerveja, coincidentemente. O gordo traria consigo apenas preocupações com a duração do seu mísero salário, que nada mais é do que chibata de seu patrão, com a diferença que existem milhares de pessoas querendo seu açoite.

Só agora vi ao meu lado uma linda menina que dorme acariciada com o leve balançar do trem, cara nova e fresca. Nesta hora o gordo levanta olhando feio para mim, provavelmente não gostou de meus olhares conclusivos, vai meu filho, vai você, seu salário que o faz rebaixar para um chefe com uma bunda mais mole que a sua, sua esposa que provavelmente fala mal das vizinhas enquanto suas crianças imundas se agridem, vão todos ao diabo que os carreguem!

Voltando a menina dorminhoca, linda a menina, tivesse a visto de pé talvez mostraria interesse por ela, até abrir sua boca rodeada por lábios vermelhos e carnudos, dela sairia apenas bordões martelados por personagens medíocres e ridículos da televisão, em roda com as amigas falando de novela, sexo e amores vulgares.

O trem está mais cheio de que quando entrei, muitas pessoas falam, riem, o barulho é infernal. Infernal!

Meus olhos acertam outra menina, com os cabelos azuis, camiseta de uma companhia de teatro, os novos atores, agora se formam aos montes nas inúmeras escolas, que a qualidade corre em sentido oposto a quantidade delas, outra cuja preocupação é a estética, a estética é o nosso maior ditador, hoje os atores não precisam estudar os grandes autores, até mesmo porque hoje só se existem as adaptações, o autor intitulado diretor não entende o texto e faz sua versão dele, inseguro coloca após o título: adaptado por fulano de tal. Hoje o segredo para se tornar um grande ator de novela, ator de teatro não! Porque os atores de teatro não comem muitas menininhas, e por sua vez as atrizes não posam peladas em revistas masculinas nem são chamadas para aqueles jogos entre os ditos “artistas” nos programas de auditórios. O segredo, já ia me esquecer do segredo, é muito simples basta ser bonito, colorir seu cabelo de azul, vermelho, amarelo ou roxo, espalhar pela cara o máximo que o pai permitir de pircings e usar, não esqueçam, de usar um tênis de cada cor.

É chegou minha estação, felizmente vou descer, não agüentava mais olhar para essa gente com cara de desgostosos e mal-humorados.

Fabiano Fernandes Garcez
Enviado por Fabiano Fernandes Garcez em 15/07/2008
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