Um ano em Pereirópolis XII - "O garanhão da Cohab"

Robson dos Santos trabalhava no Mercado Público e à noite fazia curso profissionalizante de Eletrotécnico no Poli – como ainda chamam o Colégio Professor Zauzino Fogaça, antigo Polivalente. Morava com a mãe e os dois irmãos numa casa na Cohab.

Até o ano passado, estava juntando dinheiro para comprar o Fusca do vizinho, Seu Olegário. As contas estavam em dia, já tinha terminado de pagar as prestações da bicicleta e da geladeira nova que deu para a mãe. Vendeu a guitarra e o amplificador para um colega de serviço. Só não vendeu o videogame porque era de valor estimativo – e porque ninguém mais quer saber de Super Nintendo.

O fraco do Robson sempre foi a mulherada. Só na Cohab tinha quatro namoradas: duas Patrícias – uma loira e uma morena – a Greice e a Kelly. Tinha também a Vanessa, da Vila Santa Terezinha. Mas a “oficial”, a que ele apresentou para a família, era a Lidiane, do Bairro Guarany.

Uma tarde, na hora que estava tomando banho para ir à escola, viu no celular uma chamada não atendida da namorada, a oficial. Ligou de volta.

“Oi, amor.”

“Binho. Tenho que te contar um negócio.”

“Fala.”

“Não dá pra falar por telefone. Vem aqui em casa.”

O rapaz ficou gelado de cima a baixo. A primeira coisa que lhe ocorreu foi a figura da Lidiane com uma barriga de gestante. E não deu outra. Quando chegou na casa da moça, a mãe, o pai e a avó já sabiam de tudo, e só esperavam a resposta dele para saber quando é que ele traria suas coisas morar com eles. Eram uma gente muito decente e equilibrada. Ninguém se escandalizou com a gravidez, já que o Robson era um guri direito e a Lidiane gostava dele. Quem não entendeu nada foi o pai da criança, que sempre se cuidou direitinho, e nunca deixou de usar preservativos.

Robson teve de abrir mão do sonho do Fusca do Seu Olegário para dar de entrada em uma casinha do lado da casa da mãe. Até que ele tem se saído bem. Não parou de ir à escola, comprou os móveis da casa com a ajuda da família da Lidiane. Tornou-se um paizinho de família bem responsável, e nem se queixa de nada. Até o fim do ano pretende arrumar os papéis para casarem no civil.

O mais difícil para ele é que agora as outras cinco têm bem menos da sua atenção. Mas ele se esforça.