Um ano em Pereirópolis XIII - "Endereço inexistente"

Tânia casou e foi morar em Porto Alegre. Depois de vários anos vivendo na capital, teve a idéia de retomar o antigo hábito de escrever cartas. Dias depois, a primeira que escreveu foi devolvida pelo correio com a indicação: “Devolvido ao Remetente: endereço inexistente”. Achou improvável que tivesse esquecido o endereço onde viveu até os vinte e cinco anos. Mesmo assim, foi conferir no guia telefônico, confirmando que os dados – rua, número, bairro, cidade, estado, cep - estava certinho. Ligou para a mãe para comunicar a situação. Ficou estarrecida quando ouviu a mensagem eletrônica “Este telefone está impedido de receber chamadas”. Começou a ficar preocupada. Nunca foi de paranóias, mas parecia um complô dos meios de comunicação afastando-a da terra natal. Resolveu consultar algum guia eletrônico na internet, para ver, sabe lá, se acontecera alguma modificação nas linhas telefônicas, endereços, essas coisas, já que hoje em dia tudo é muito rápido e muda com freqüência. Ficou assustada com o resultado: não havia um mapa sequer que indicasse a existência de Pereirópolis. Aquela busca foi até o final da tarde, avançou pela noite, até a hora que o marido Cléber voltou para casa, porque não tinha o privilégio de ter um home-office como ela. Espantada, antes mesmo de dizer “oi” ou dar um beijo no marido, Tânia sentenciou: “Pereirópolis não existe”. Rápido no gatilho, Cléber não pode deixar escapar a piada: “Meu amor, isso só você ainda não sabia.”