O apocalipse com efeito estufa é o bicho.

Na medida. Altas e alvas nuvens espalhadas, alternavam o branco com o fundo azul do céu. Quando acordei, fiz como os gatos e instintivamente me estiquei todo e me despertei para o domingo. Domingo não pede cachimbo, que fumar faz mal à saúde. Domingo dia do Senhor, dia de se contar as vitórias, dia de olhar o horizonte para não perder os sonhos.

O dia que nascera todo luz, parecia-me um chamado para comunhão, para o bem estar entre as pessoas. Que os espíritos de porcos estejam nas trevas das noites passadas – desejei.

Em falar de comunhão, lembrei-me do mestre. Era para ter passado em Marismênia no sábado a noite. Combinei que iríamos “tocar uns papos”, afinal nossas conversas ultimamente se restringiam e a curtas frases ao telefone. “Masquei”. Tomo o telefone e ligo explicando-lhe os motivos.“Cansado, tempo sem correr atrás de bola dá nisso, à noite nem dá pra sair”.

O Mestre e seus anos de experiência. E não como um sábio qualquer, compreende-me logo. “O corpo às vezes não acompanha o espírito”. Diz ele com brandura. Não por falta de assunto, lembrei-lhe do calor tremendo que a natureza nos impingira no decorrer da semana. “Mas é isso Gordão. Calor muito calor e vai piorar. É por isso que temos que organizar nossa ida para o carnaval no Litoral. Se quiser podemos ir a Conceição da Barra. Lá tem o melhor carnaval do estado. Vamos lá aproveitar, pois vai acabar tudo. Não viu o que o mar já fez?”

Realmente a agradável Conceição da Barra fora açoitada pelo mar nos últimos anos. O mar lhe arrancara a principal avenida, a Atlântica, quebrando um pouco do encanto do lugar. Emendando a conversa, o Mestre, em tom profético derramou mais verbo. “Vai preparando o couro Gordão, o degelo do Ártico e da Antártida está vindo a cavalo. Já começa a alteração do curso das correntes marinhas. A Europa, mais que a gente, está sentindo. Se prepara. Vamos ter que nos mudar para uma região mais central do Brasil.” Já atemorizado, interpelei-o: Mestre, quer dizer que o mar vai invadir o Espírito Santo? E se isso acontecer, aonde os mineiros vão passar as férias do verão? Gordão – Falou o mestre – Não quero dizer, digo! E digo a pura realidade. Não vai sobrar nada! Não só do nosso Estado, mas de toda grande faixa litorânea com pouca altitude. O mar vai pra Minas e vamos ter que nos amontoar com a mineirada. Muitos morrerão – Gordão, muitos esclarecidos já sabem do que vai acontecer, só o povão é que está na ignorância. Novamente o interpelo: Mestre, e quando serão essas coisas? Em pouco tempo – responde. O que podemos fazer Mestre? “Só aproveitar enquanto se pode. O que pode abreviar tudo é um cometa que está para colidir com a terra em 2006 ou 2016, não está certo ainda”. Ufa, ainda bem, pensei, se for em 2016, tenho uma eternidade de dez!

Já reparou Gordão? Continou o Mestre, os bancos que são todos de Judeus – esses espertalhões que dominam o mundo – não fazem mais empréstimos com prazo maior que sete anos.

Perguntei se ele tinha estudado o apocalipse de São João. Enfático me disse que João, quando escreveu aquele livro, delirava. Era prisioneiro na ilha de Patmos e debilitado fisicamente, escreveu alucinações. Coisa de fanático. Pasmado, fiquei pasmado. Mestre, você está cheirando droga? Se não está na droga está possuído. João foi um homem Santo – Gorrrdão(apertando os erres), só me deixo possuir por garotas e você é esclarecido, não vai dar uma de xiíta do Islã, como no caso das charges do Maomé. Eles estão loucos, sabem que não há virgens nem mais no paraíso!

Mudei o assunto. Falei ao mestre que aguardava, com certa expectativa, a decisão da Guanabara, à tarde, entre o glorioso Botafogo e o renascido América. Antes que concluísse que tinha simpatia pelos dois clubes, o Mestre foi cortando o barato com sua teoria conspiratória, dizendo que eu era um engolidor de Zagalo e que esse negócio de jogo de futebol era tudo armado. Sabia por um vizinho que tinha um filho que trabalha no Rio, como repórter esportivo. “Ele é repórter e está por dentro de toda maracutaia”.

Deixei a razão com o mestre. Não me importava se o jogo era armado ou não. Mas se o mundo fosse acabar mesmo? Logo agora que ganhava sorrisos colgate das bonitonas, no Cooper da beira-rio? Agora que o atendimento do Gatão tivera uma ligeira melhora, incrementando mais a super-quinta? Agora que me tornara amigo do Calouro Sissi? Não, não era justo que o mundo acabasse.

Tornei meu olhar para o céu do domingo. Tornara-se acinzentado. O Mestre o borrara.

Na próxima vez que ligar pro Mestre, vou avisando sem tréguas: “Estou falando do além. Bati as botas. Só por isso não passei aí em Marismênia. Fica tranqüilo que logo você estará comigo. Não me pergunte como é aqui. A propósito, São João não é deste compartimento”. É bom se precaver!

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Joel Rogerio
Enviado por Joel Rogerio em 16/02/2006
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