Maldade e Bondade - parte 02 de 02

Quando estava mais perto viu que o tal de Marcelo, um rapaz de quase a mesma idade que ele, talvez um pouco mais, e mais velho que todos os outros, colocava a furadeira no meio das pernas da garota. No entanto encostava na grama a centímetros da pele dela, fazendo pedaços de grama voarem no ar. Todavia Paulo sabia que não tardaria e a furadeira seria direcionada a ela, como era mesmo a intenção de todos ali.

Avançando resolutamento, sem pestanejar, Paulo chegou perto do grupo, que só então deu pela sua presença. O tal de Marcelo, levantou-se, e com uma mão tirou a mecha de cabelo que caia sobre os seus olhos.

---- Então o rapaz também quer participar hein? Chega mais, vem ver como se acaba com uma puta sem vergonha.

Paulo só então se deu conta do perigo que corria. Não conhecia aquelas pessoas, nem a moça.

Sem falar nada chegou perto dos rapazes e pegou um pedaço de pau que provavelmente um deles usara para fazer aquele corte na cabeça da garota estendida no chão, com as pernas abertas expondo toda sua intimidade.

---- hei, que é isso? - falou Marcelo - Está se metendo onde não devia rapaz! Fica na tua. Vai ser melhor assim. Agora se quer participar da farra aproveita, senão cai fora.

Os outros rapazes nada diziam apenas olhavam o que se passava. Mantinham sob seus braços, dominada e estirada na grama, uma loira , de estatura média, com uma camiseta amarela da seleção brasileira, e sem nada na parte de baixo.

Quando o tal de Marcelo agachou-se para continuar a terrível brincadeira, Paulo largou o pedaço de pau, e também acocorou-se.

---- Moço, faz isso não. Vai matar ela.- disse ele quanse num suplicio.

---- Incrivel como você percebeu! - disse rindo e olhando para os outros - Éisso mesmo que essa vadia merece. Ela não gosta de uma coisa no meio das pernas? Hâ, não gosta vadia? Fala sua desgraçada! - e colocava a máquina na vagina da moça, sendo que quando ligava retirava e cravava no chão. -

---- Moço, faz isso não.- disse o rapaz de voz mansam, suplicando outra vez mais.

---- Ô seu matuto do mato, quer me dar um bom motivo pra isso? Acho que você já está se metendo demais!- Marcelo se levantou então.

Paulo tomou coragem.

---- Não é por ela não, moço. É pelo senhor mesmo.

---- Por mim, como assim? - perguntou o tal de Marcelo, prestando atenção.

---- Vocês não podem fazer isso. Não é por ela. Vocês devem ter família, alguém que goste de vocês!

---- Hei mané, caí fora! - gritou um dos que seguravam a moça que agora soluçava baixinho, pensando enfim ter encontrado alguém para lhe ajudar.

---- Cala a boca Geferson! - gritou seco e duro o tal de Marcelo - Continue rapaz! E o que mais?

---- Olha, eu sei o que fazem, não me importo, mas por favor! Meu pai, diz que a vida humana é o que há de mais sagrado na terra! Vocês vão estragar suas vidas, se fizerem isso. Pelo que escutei vocês até agora só assaltaram, nunca mataram nem feriram ninguém.

---- e o que tem isso?

---- A gente conversa com o pessoal da cidade. Muitos deles acham que vocês são uma espécie de herói. Roubando sem matar. Tirando dinheiro de quem tem.

---- É, mas a gente não é nenhum bando de Robin Hood não! A gente só não matou por que não foi necessário.

Dito isso o tal de Marcelo ligou a furadeira novamente.

---- Moço, por favor! É pelo senhor que estou pedindo! O senhor vale mais do que ela! Se fizer isso, não será perdoado!

---- Ora que se dane! - disse o tal de Geferson novamente- Acaba logo com isso! -

----- Olha eu não sei dizer palavras bonitas, para enganar vocês! Mas sei que vocês não são maus! A gente percebe quando as pessoas são más. Sabe, nós ali de casa, ficamos contentes quando vocês mudaram para cá.

----- E agora estão arrependidos?

---- nâo! Quer dizer, a gente não gosta de julgar os outros. O nosso pai sempre diz isso, não julga para não ser julgado.

---- Seu pai é inteligente!

---- Você tem pai? - criou coragem Paulo.

---- Pai... - o sitiante notou que o tal de Marcelo parecia pensar um pouco - talvez tenha. Já faz um bom tempo que não o vemos.

Os rapazes pareciam ter extravazado já aquela onda de furor e terror que antes os impelia.

---- Onde ele está?

---- Meu pai... ora que tem meu pai com isso?

---- Papai está preso! - disse um dos rapazes que parecia ser o mais novo do grupo.

A moça ainda continuava deitada.

O tal de Marcelo puxou Paulo pelo braço até um lugar mais afastado, longe dos outros irmãos..

---- Olha rapaz, se manda daqui! Você não tem nada com isso, por que quer se meter?

---- Por que eu sei que vocês são gente boa. Se fizerem isso estarão indo para o mesmo lugar onde seu pai...

---- Cala a boca, seu merda! o que você sabe do meu Pai?

---- Nada, mas eu pensei...

---- Olha cara, meu pai está preso por que um banco filho da mãe negou um empréstimo para ele saldar suas dívidas, daí ele roubou o tal banco e em seguida foi preso.

---- E sua mãe? Onde está ela?

---- Ela morreu. - os olhos do tal de Marcelo estavam ficando com algumas gotas dágua teimando em escorrer deles - Logo após papi ter sido preso. Não aguentou.

---- Eu sinto muito! Mas.. é o que vai acontecer com vocês, vão acabar indo presos igual seu pai.

---- E o que você tem com isso?! - disse gritando o tal de Marcelo limpando o rosto com a manga da camisa.

---- E sua mãe? Vocês não pensam nela? Acha que ela gosta do que vocês estão fazendo?

---- Cala a boca! Quem você pensa que é para falar dela? Afinal a gente nunca se falou, deixa a gente em paz.

Meia hora depois o velho pai vê o filho Paulo de volta.

Não lhe pergunta nada, não precisa.

Um sorriso de orgulho estampado no rosto do velho é o prêmio de Paulo.

Vai dormir com a consciênica tranquila.

Lembra-se ainda das últimas palavras daquele tal de Marcelo.

"Vai, meu amigo. Vai tranquilo, você hoje salvou seis vidas".