Sombra, Noé e a Pelada na Estação de Trem

Sentados no barranco daquele campinho de terra batida, onde jogavam cinco em cada time, Noé -que já havia completado os dezesseis anos- e seu irmão Sombra, com apenas sete anos, assistiam aquela "pelada" com grande interesse, pois eram naquele momento, a única platéia presente naquele "evento".

O campinho ficava ao lado do galpão da companhia que administrava a estrada de ferro, que, por sua vez, estava assentada do outro lado do mesmo galpão.

O jogo corria normalmente quando um jogador do time que jogava sem camisa, colocou a mão na bola, gritando imediatamente -para todos- com autoridade, que tinha sido bola na mão.

Esse jogador dava a impressão de ser uma espécie de lider, pois ninguém o contestou, nem mesmo o time adversário, apesar de todos terem percebido, claramente, a sua atitude faltosa.

Noé, que trazia em seu interior um componente compulsivo, que não o deixava ficar quieto quando presenciava alguma injustiça, foi logo gritando: - Foi mão na bola...

O jogador faltoso, sem dar muita importância, devolveu: - Foi bola na mão...E, continuou o seu jogo...

Depois de cinco minutos quando o jogo já tinha seguido o seu curso normal, Noé, de repente, gritou outra vez, com mais força ainda: - Foi mão na bola...

O jogador faltoso, puto da vida, parou o jogo, ordenando arrogantemente que Noé se calasse, afirmando: - Foi bola na mão...

Outros cinco minutos se passaram quando o grito de Noé ecoou por toda a estação ferroviária: - Foi mão na bola...

Nesse momento -furioso- o tal jogador correu em direção aos dois irmãos, pulando sobre o barranco, exigindo que Noé repetisse junto com ele que havia sido bola na mão.

Não sendo atendido em sua exigência, desferiu um tapa no rosto do irmão de Sombra, voltando, em seguida, rumo à sua pelada.

Antes que ele chegasse ao campo, Sombra, do alto de seus sete anos de idade, possesso de raiva com aquele filho da puta, gritou o mais forte que pode: - FOI MÃO NA BOLA...

O camarada veio babando em direção ao Sombra, gritando que não gostaria de bater num pirralho, mas que, se ele - Sombra- não se retratasse imediatamente, apanharia também...

O jogador estava parado, em pé, bem em frente de Sombra, exigindo uma retratação do garoto, que permanecia sentado e calado, olhando tranquilamente para o seu oponente.

Percebendo que a sua vontade não seria satisfeita, o jogador faltoso se preparou para desferir o seu fatídico tapa, mas Sombra, ligeiro, deitou-se no barranco, adquirindo assim, espaço e apoio suficientes, para que pudesse desferir um certeiro coice no saco do camarada -de baixo para cima- com a sola dos seus pés, desmontando-o imediatamente -entregue que estava à sua merecida dor- enquanto dava no pé, junto com seu irmão Noé, agora, de alma lavada...

Aimberê Engel Macedo
Enviado por Aimberê Engel Macedo em 03/09/2008
Reeditado em 04/09/2008
Código do texto: T1160607
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